30 outubro 2006
28 outubro 2006
O propósito antropocêntrico
Curiosamente quanto menos propósito acho em tudo mais me sinto como parte do todo. Achar que o Homem tem qualquer coisa de transcendente, algo de inexplicável que o diferencia de todos os seres do universo, um qualquer desígnio que o elege de entre toda a natureza, faz-me sentir desligada de uma realidade possível que, sabendo ser apenas minha, se me afigura intrincadamente cooperativa. O relevo que possa eventualmente atribuir a mim própria neste imenso cosmos soa-me necessariamente a uma efabulação egocêntrica, ou, na mais desumanamente altruística das hipóteses, a uma deslumbrada presunção antropocêntrica.
Vejo, quando vejo, a humanidade como tudo o resto, não um fim mas um meio. Uma etapa como as demais. Se tudo se transforma…
Colocar o ser humano no topo de uma pirâmide hipotética que toca o céu é tão sagaz como colocar o Sol no centro do mundo!
Eu sei, eu sei… a espécie acumula Ciência, produz objectos que apelida de artísticos e sei também que é capaz de se pensar a si própria. No entanto estou segura de que não se pensa agora como se pensava há mil anos atrás. Estou também certa de que a humanidade não sabe que humanidade acreditará em quê daqui a outros tantos mil anos!
Cátia Farias
26 outubro 2006
20 outubro 2006
Fatalidade
Tudo leva a crer que o Homem não tenha desígnio nenhum! Por outras palavras, é muito provável que não haja qualquer objectivo predefinido para a Humanidade. A instrução que os organismos trazem à partida é mesmo essa: «crescei e multiplicai-vos». Não há dúvida que essa fórmula é talvez a única que encerra uma finalidade consensual e verificável. A todo o ser na natureza cumpre crescer e multiplicar-se, isto é, sobreviver e replicar-se. De tal forma é compulsivo esse preceito que parece haver uma continuidade da vida no nosso universo. Dos protozoários aos mamíferos, da bactéria ao Homem existe a manifestação evidente de uma vontade inabalável de permanecer operativo e de reproduzir cópias de si mesmo! Podemos até concluir que chegamos aqui a este ponto por causa disso mesmo. Todo o sistema subsistiu até hoje através desse princípio.
Neste capítulo será então essa a afirmação menos polémica que podemos exarar.
O Homem com a sua complexidade linguística pode esgrimir todas as argumentações que lhe aprouver sobre a possibilidade de interferir no processo. Contudo convém não esquecer que a natureza ao assistir à negação da norma que tudo preserva não está de forma alguma arredada do método, antes pelo contrário, é ela que subtilmente vai persistindo na selecção para mais se fortalecer.
De uma forma simples, os organismos que não tenham as melhores condições de sobrevivência ficarão para trás. Sim porque a natureza é, foi e será sempre implacável. Só assim prossegue.
O “Homo Ciberneticus” ou outro… continuará por certo a ser presunçoso e sonhador como o Sapiens, inventando afectos e místicas onde não consegue interpretar impulsos e ignorâncias intrínsecas à sua condição. Quando, em vez de perder tempo com juízos que pertencem a morais necessariamente precárias, talvez o Homem se colocasse mais em consonância com a natureza que o engloba se tratasse de proporcionar as condições em que a selecção não fosse nunca fatídica, à semelhança aliás de muitos outros animais…
Cátia Farias
Neste capítulo será então essa a afirmação menos polémica que podemos exarar.
O Homem com a sua complexidade linguística pode esgrimir todas as argumentações que lhe aprouver sobre a possibilidade de interferir no processo. Contudo convém não esquecer que a natureza ao assistir à negação da norma que tudo preserva não está de forma alguma arredada do método, antes pelo contrário, é ela que subtilmente vai persistindo na selecção para mais se fortalecer.
De uma forma simples, os organismos que não tenham as melhores condições de sobrevivência ficarão para trás. Sim porque a natureza é, foi e será sempre implacável. Só assim prossegue.
O “Homo Ciberneticus” ou outro… continuará por certo a ser presunçoso e sonhador como o Sapiens, inventando afectos e místicas onde não consegue interpretar impulsos e ignorâncias intrínsecas à sua condição. Quando, em vez de perder tempo com juízos que pertencem a morais necessariamente precárias, talvez o Homem se colocasse mais em consonância com a natureza que o engloba se tratasse de proporcionar as condições em que a selecção não fosse nunca fatídica, à semelhança aliás de muitos outros animais…
Cátia Farias
18 outubro 2006
17 outubro 2006
16 outubro 2006
Sempre de mãos dadas
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Não abundam os estudos sociológicos sobre a matéria, o que em si já é sintomático.
Sem me alongar em discursos mais ou menos infrutíferos, que desses sim não há escassez, mostro aqui e também aqui dois parceiros que me parece andarem sempre de mãos dadas…
A reflexão poderá começar por questionar em que medida e de forma é que este tem a ver com aquele e vice-versa. Porque se equiparam…
De qualquer forma o que se pretende aqui é tão-somente atirar achas para uma fogueira que não se sabe precisamente como começa, quais as suas dimensões exactas e como se deverá preceder cabalmente à sua extinção.
Hoje em dia não faltam ferramentas, tanto para o estudo como para a persuasão sociais.
V. Sousa
Sem me alongar em discursos mais ou menos infrutíferos, que desses sim não há escassez, mostro aqui e também aqui dois parceiros que me parece andarem sempre de mãos dadas…
A reflexão poderá começar por questionar em que medida e de forma é que este tem a ver com aquele e vice-versa. Porque se equiparam…
De qualquer forma o que se pretende aqui é tão-somente atirar achas para uma fogueira que não se sabe precisamente como começa, quais as suas dimensões exactas e como se deverá preceder cabalmente à sua extinção.
Hoje em dia não faltam ferramentas, tanto para o estudo como para a persuasão sociais.
V. Sousa
14 outubro 2006
12 outubro 2006
O Esteves
Dou por mim com o corpo enterrado no sofá. Lembro-me vagamente de pensamentos imperdíveis que de todo já esqueci. Sei que os achei essenciais quando os pensei. Mas não, não consigo recuperar nada. Suspiro. De outra vez me virão, talvez até mais elaborados, menos falíveis… Sorrio. Por momentos acaricio o bigode sem pensar em nada, eu que nunca tive bigode nem alguma vez virei a ter. Procuro os óculos com o olhar embora saiba que não os encontrarei: nunca precisei de óculos…
De repente num impulso salto do sofá e vou à janela. Debruço-me sobre a rua e ainda se vêm pelo chão indícios da prata (que não é prata é estanho…) do chocolate com que a pequena ainda há pouco se lambuzava. De repente o Esteves sai da tabacaria!
Aceno para a praça vazia, despida de lojas, de gente, de tudo. O vento rodopia nas coisas inúteis e a chuva torna o cenário ainda mais triste. Volto para dentro com a desolação de quem recorda que nada nem ninguém habitam já aquele lugar.
A sala está de novo deserta e o sofá, de onde não cheguei a sair, devolve-me o conforto.
Anoitece.
Alice T.
10 outubro 2006
Origens da peçonha
O que mais me apraz são esses discursos redondinhos em que parece que tudo faz sentido e que as equações dos problemas aparecem claras e resolúveis…
Poder-se-á falar em combate à corrupção? Não será o mesmo que dizer: «curemos o doente terminal».
Claro que ninguém se vai demitir de investigar e punir os prevaricadores. Mas a questão não é essa. Não existe proporcionalidade linear entre a punição do crime e a atenuação da criminalidade. Todos o sabemos.
O que seria interessante de escutar dos “especialistas” das questões sociais e políticas era a sua percepção sobre como uma profissão, uma instituição, uma sociedade se torna corrupta. Quais são as causas que determinam essa forma de actuar? Como é que o fenómeno se desenvolve e multiplica? Que razões facilitam a doença? Isso poderia ser bem mais proveitoso. Apontar as origens da peçonha…
Talvez que desse modo diminuíssem os discursos redondinhos.
Filipe Taveira
08 outubro 2006
Hedionda hipocrisia
Um dia destes os portugueses vão acordar e perceber porque é que estão endividados. Leram bem! Não disse «estão endividados», disse «porque é que estão endividados».
Vão saber porque é que o actual sistema económico precisa do seu endividamento. Porque é que são seduzidos, incentivados, impelidos, obrigados a contraírem dívidas.
E até vão estar a par de como o sistema funciona bem com o seu máximo endividamento. Também vão saber que nada teriam se não fosse através da dívida.
Finalmente, saberão porque é que o actual sistema económico não carece da sua poupança.
Com tudo isto os cidadãos vão acordar um dia destes para pôr fim de uma vez por todas à hedionda hipocrisia desses arautos que sempre imputam a culpa do endividamento às famílias portuguesas…
Vasco Sousa
Vão saber porque é que o actual sistema económico precisa do seu endividamento. Porque é que são seduzidos, incentivados, impelidos, obrigados a contraírem dívidas.
E até vão estar a par de como o sistema funciona bem com o seu máximo endividamento. Também vão saber que nada teriam se não fosse através da dívida.
Finalmente, saberão porque é que o actual sistema económico não carece da sua poupança.
Com tudo isto os cidadãos vão acordar um dia destes para pôr fim de uma vez por todas à hedionda hipocrisia desses arautos que sempre imputam a culpa do endividamento às famílias portuguesas…
Vasco Sousa
06 outubro 2006
04 outubro 2006
O êxtase da comunicação
De forma nenhuma o mundo virtual nos torna desumanos ou nos separa.
Não só porque continua a ser nossa a procedência como também por integrar todos os ingredientes para mais nos unir ainda que numa outra dimensão... A deslumbrante ferramenta que faculta a virtualidade da comunicação universaliza-se à velocidade do imprescindível. Não seria arriscar muito dizer que arrepiar caminho é já uma utopia.
O tempo é de saber como queremos que se proceda e como queremos que nos una. Enquanto que sobre a sua inevitabilidade estamos de acordo, a discussão e desacordo surge espontaneamente no que concerne ao propósito, desde a ingenuidade à ambição desmedida, desde o conhecimento à futilidade e todas as consequentes combinações possíveis. Não nos espanta que a comunicação universal, instantânea e virtual nos pareça como um cavalo louco que tomou freio nos dentes. A sua condução escapa-nos. Não sabemos por quanto tempo mais continuaremos com a pujança dos meios e a estreiteza de objectivos!
Talvez que na sua entropia essencial, na sua desordem quântica, o prodígio virtual faça com que planeta desagregue a sua realidade territorial. Contudo, territórios virtuais já nitidamente se perfilam.
NunoGFerreira
Não só porque continua a ser nossa a procedência como também por integrar todos os ingredientes para mais nos unir ainda que numa outra dimensão... A deslumbrante ferramenta que faculta a virtualidade da comunicação universaliza-se à velocidade do imprescindível. Não seria arriscar muito dizer que arrepiar caminho é já uma utopia.
O tempo é de saber como queremos que se proceda e como queremos que nos una. Enquanto que sobre a sua inevitabilidade estamos de acordo, a discussão e desacordo surge espontaneamente no que concerne ao propósito, desde a ingenuidade à ambição desmedida, desde o conhecimento à futilidade e todas as consequentes combinações possíveis. Não nos espanta que a comunicação universal, instantânea e virtual nos pareça como um cavalo louco que tomou freio nos dentes. A sua condução escapa-nos. Não sabemos por quanto tempo mais continuaremos com a pujança dos meios e a estreiteza de objectivos!
Talvez que na sua entropia essencial, na sua desordem quântica, o prodígio virtual faça com que planeta desagregue a sua realidade territorial. Contudo, territórios virtuais já nitidamente se perfilam.
NunoGFerreira
02 outubro 2006
Um momento infinitesimal
Muitos de nós, a quem neste presente os “trabalhos de Sísifo” incumbem, não verão sequer a pedra rolar livre no seu movimento acelerado, descendente e inútil. Apenas se irão tristemente aperceber da continuidade forçada da sua tarefa vã.
Por ali fora depois que o grave se liberta numa desenfreada descida ao seu retorno há um momento infinitesimal em que, dizem os que o presenciaram, a pedra deixa de se ver! Nesse lapso o tempo não sabe dizer onde ela está, nem para onde foi… num instante volta!
Quanto a Tânatos, apesar de Sísifo, sabemos todos que não escaparemos e muitos dizem mesmo que nunca mais regressaremos…
Alice T.