12 outubro 2006

O Esteves


Dou por mim com o corpo enterrado no sofá. Lembro-me vagamente de pensamentos imperdíveis que de todo já esqueci. Sei que os achei essenciais quando os pensei. Mas não, não consigo recuperar nada. Suspiro. De outra vez me virão, talvez até mais elaborados, menos falíveis… Sorrio. Por momentos acaricio o bigode sem pensar em nada, eu que nunca tive bigode nem alguma vez virei a ter. Procuro os óculos com o olhar embora saiba que não os encontrarei: nunca precisei de óculos…
De repente num impulso salto do sofá e vou à janela. Debruço-me sobre a rua e ainda se vêm pelo chão indícios da prata (que não é prata é estanho…) do chocolate com que a pequena ainda há pouco se lambuzava. De repente o Esteves sai da tabacaria!
Aceno para a praça vazia, despida de lojas, de gente, de tudo. O vento rodopia nas coisas inúteis e a chuva torna o cenário ainda mais triste. Volto para dentro com a desolação de quem recorda que nada nem ninguém habitam já aquele lugar.
A sala está de novo deserta e o sofá, de onde não cheguei a sair, devolve-me o conforto.
Anoitece.

Alice T.

2 comments:

Anonymous Anónimo said...

Passei para ver esta agradável e sempre interessante página, onde me delicio nesta madrugada, e também para desejar bom fim-de-semana.

13/10/06 6:34 da manhã  
Blogger Rita said...

A solidão dita de forma bela, muito bela.

15/10/06 1:00 da manhã  

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