20 outubro 2006

Fatalidade

Tudo leva a crer que o Homem não tenha desígnio nenhum! Por outras palavras, é muito provável que não haja qualquer objectivo predefinido para a Humanidade. A instrução que os organismos trazem à partida é mesmo essa: «crescei e multiplicai-vos». Não há dúvida que essa fórmula é talvez a única que encerra uma finalidade consensual e verificável. A todo o ser na natureza cumpre crescer e multiplicar-se, isto é, sobreviver e replicar-se. De tal forma é compulsivo esse preceito que parece haver uma continuidade da vida no nosso universo. Dos protozoários aos mamíferos, da bactéria ao Homem existe a manifestação evidente de uma vontade inabalável de permanecer operativo e de reproduzir cópias de si mesmo! Podemos até concluir que chegamos aqui a este ponto por causa disso mesmo. Todo o sistema subsistiu até hoje através desse princípio.
Neste capítulo será então essa a afirmação menos polémica que podemos exarar.
O Homem com a sua complexidade linguística pode esgrimir todas as argumentações que lhe aprouver sobre a possibilidade de interferir no processo. Contudo convém não esquecer que a natureza ao assistir à negação da norma que tudo preserva não está de forma alguma arredada do método, antes pelo contrário, é ela que subtilmente vai persistindo na selecção para mais se fortalecer.
De uma forma simples, os organismos que não tenham as melhores condições de sobrevivência ficarão para trás. Sim porque a natureza é, foi e será sempre implacável. Só assim prossegue.
O “Homo Ciberneticus” ou outro… continuará por certo a ser presunçoso e sonhador como o Sapiens, inventando afectos e místicas onde não consegue interpretar impulsos e ignorâncias intrínsecas à sua condição. Quando, em vez de perder tempo com juízos que pertencem a morais necessariamente precárias, talvez o Homem se colocasse mais em consonância com a natureza que o engloba se tratasse de proporcionar as condições em que a selecção não fosse nunca fatídica, à semelhança aliás de muitos outros animais…

Cátia Farias

6 comments:

Anonymous Anónimo said...

Bom de fim-de-semana, enquanto lá fora o vento sopra e a chuva cai, aqui a qualidade impera, neste interessante blogue.

21/10/06 9:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Faço minhas as palavras do Jofre.
Mas de facto assim é Cátia, na Natureza não há qualquer sentido pré-definido, o Universo, por si, não autoriza qualquer verificação de progresso e até a vida, em geral e dentro desta a nossa maravilhosa aventura, em nada encontramos um sentido primacial e somos levados a dizer que independentemente da nossa vontade ou consciência, para lá de nós, todo esse cosmos que nos envolve e em que decorrem as nossas existências se explica pelas suas próprias contingências e de acordo com leis e princípios –salvo seja a expressão- que não dependendo de nós podemos até entender. É assim, na Natureza, por si, não existe qualquer sentido para a Humanidade, somos parte integrante e inseparável desse Universo a respeito do qual, como alguém lembrou há quase trezentos anos, ninguém precisou da hipótese divina para explicar o que quer que fosse. Pode parecer frio, diria tão inóspito como o espaço inter-galáctico, mas é dessa forma que a realidade objectiva se nos apresenta diante da nossa razão e dos nossos sentidos.
Sem embargo, não podemos omitir que é precisamente por isso que a nós assiste a possibilidade da escolha, pois se é verdade que enquanto seres vivos que somos nascemos sem qualquer sentido implícito, só de nós depende partir da escolha de encontrar um sentido para as nossas vidas e o mundo em que elas decorrem e se desenvolvem. Provavelmente é essa a opção fundamental que se coloca a todas as pessoas e é universal, pois é reconhecível em todos os indivíduos quando nascem.
Ora se nascemos sem sentido físico, como seres culturais que também somos, nada nos impede de procurar encontrar razões para estabelecermos rumos para os mundos em vamos vivendo.
Curiosamente e na minha modestíssima opinião, é precisamente por ser assim que Ele faz sentido e Lhe poderemos encontrar um sentido, ao mesmo tempo que não se exclui mutuamente com as leituras científicas nas quais jamais Entrou como hipótese. Afinal, podemos sempre ter presente o quanto nos encanta ter-nos calhado tão belo brinde de sermos uma das tais improbabilidades que acabam por ser prováveis num maior número de casos que à partida poderíamos pensar. Seria, digamos assim, uma insensatez desperdiçarmos uma oportunidade tão pouco vulgar.
Mas eu não vinha aqui para ter este desabafo a respeito do qual só posso expressar o mais profundo desejo para que não vos tenha sido inconveniente e maçador. Se o tomarem como ousadia, direi então que ele foi o modo de que fomos capazes para lhes trazer um gesto de paz após o qual pretendemos apresentar-lhes um convite para entrarem num blog e aí participarem numa discussão em que me parece poderem apresentar pontos de vista certamente interessantes e enriquecedores.
Gostamos deste vosso sítio, onde encontramos o bom gosto associado à elegância de saber dizer. Não importa considerar graus de compatibilidades ou níveis de concordância. Aqui vocês conseguem um espaço em que nos podemos sentar para ler e pensar ou tão só para nos divertirmos na companhia de pessoas bonitas e com coisas agradáveis de se ver. Chegamos aqui a partir de algumas participações que têm feito num outro blog, “Lana Caprina” e sempre que os visitamos deparamo-nos com o prazer de aprender ou nos alegrar um pouco mais, algo que afinal também esse pode ser um dos sentidos da vida, coisa que vocês fazem com uma elegância encantadora.
Daí o quanto nos distinguiria se aqueles que dão corpo a este projecto ou alguns entre eles aceitassem apresentar as respectivas opiniões no debate que referimos que, sendo subordinado ao genérico da igualdade do género e da desigualdade em que tais relações assentam, está apresentado de uma forma que nos parece interessante e susceptível de propiciar conversas ao mesmo tempo graciosas e pertinentes.
O blog em causa é o “Atirei o Pau ao Gato”, a conversa será “No Largo da Graça”, ao qual podem aceder logo a partir da página de rosto e a morada para nele entrarem é a seguinte:
http://pauga.blogspot.com
Tomem estas nossas palavras como um sinal de paz de quem gosta de escutar e se sente agraciado por isso e a forma como nós conseguimos encontrar para lhes deixar aqui o nosso melhor bem-hajam pela atenção que nos dispensem e pela generosidade de aceitarem o nosso convite.
Votos de saúde para todos vós e todos aqueles que lhes são queridos

22/10/06 5:05 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

luís f. de a.gomes,
faço minhas as suas considerações positivas acerca deste Blog.

Apetece-me agora partilhar algo que nuncamais saiu da minha memória desde que pela primeira vez o li,em 1997.Guardei o recorte da revista e por vezes ,no meio de pensamentos mais místicos lá vem ao de cima estas imagens bem terrenas para me lembrar que tambem somos matéria .Mas a perfeição e o intuito da organização deixam-me contudo e ainda,a pensar!

(lamento não ter desenhos para ajudar o entendimento do texto)

1--Os fungos unicelulares do género Dictyostelium são parecidos com amebas.Vagueiam pelo chão do nosso jardim.engolindo pedaços de folhas mortas,bactérias e fungos.

2--Se o alimento escasseia,milhões de fungos rastejam literalmente para um ponto central e unem-se,formando uma colónia coesa.

3--A colónia arrasta-se a uma velocidade de 2 mm por seg.,em cada hora,até acabar com a comida das redondezas.

4--Aí...a colónia muda de forma:
os microrganismos começam a empilhar-se formando uma mini torre.

5--As criaturas que estão por baixo,morrem e transformam-se numa espécie de cimento.
As outras continuam a subir.

6--No alto,constroem em redor dos seus corpos uma espécie de cápsula espacial esférica onde são armazenadas água e comida.

7--Então a cápsula lança-se ao vento e pode vaguear durante meses ,até cair de novo.De preferencia num novo solo rico em matéria orgânica para se reproduzirem.----------------

Agora digam-me lá se não apetece pensar na humanidade com todo o seu progresso e organização,sabedoria e vontade,mas causando o que chamamos de auto- destruição,sobrevivencia dos mais aptos ,diferenças abismais entre sociedades sem o minimo respeito pelo outro,o que nos deixa eternamente a perguntar "porquê?,mas porquê" e "para quê"?

Não defendo que seja assim.É apenas uma divagação.Até porque continuo a pensar que Einstein tinha razão quando disse "Deus não joga aos dados".

E se é certo que nada é feito ao acaso, também é certo que a nossa complexidade vai mais além do que a sobrevivência material.

23/10/06 2:33 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

E ainda...
Não sei se a ideia matris ficou clara.É que para que os micoorganismos sobrevivam ,muitos deles têm que perecer formando a tal torre ou base de lançamento.
Por inadaptabilidade genética?
Por"solidariedade"?
Porque "Sim"?
Que centelha ,que sopro vital é este a que chamamos de vida?

23/10/06 2:45 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Pela primeira vez não posso concordar contigo, pelo simples facto de que sou crente. E como tal a minha interpretação da vida é completamente diferente. E não consigo imaginar como é possivel pensar dessa forma e continuar a viver o dia-a-dia. com que propósito, com que rumo, com que intenção. Não concebo...

23/10/06 7:49 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Permita-me só partilhar uma ideia que me ocorreu ao ler o texto.

O homem habituou-se a fugir às regras da natureza que tiveram de vigorar até ele aparecer enquanto espécie. Um paradoxo humano é estar a deter essa regra no seu caso; os menos bem adaptados não ficam para trás, não há valorização de características em função das exigências do meio e as consequências disso não são fáceis de prever.
Chamei-lhe paradoxo porque, do outro lado, está o facto de o homem não ser capaz de deixar para trás ou sem auxílio outros como ele e como tal serve-se de atributos como solidariedade ou segurança social para embargar a lei do mais forte.
MM

27/10/06 8:23 da tarde  

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