26 janeiro 2007

Signos XIII

24 janeiro 2007

O cinema e a língua


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Nos anos cinquenta e sessenta do século passado o ensino de línguas estrangeiras elegeu como mais essencial a língua francesa. Parecia ser, pensava-se nesse tempo, o acesso facilitado a uma cultura rica que se afirmava no mundo e que surgia exemplar aos olhos da Europa. Em segundo lugar situava-se a língua inglesa e por último, apenas para as opções na área das letras, o alemão.É claro que se discutiam prioridades. Havia os que defendiam o ensino do latim durante vários anos e também havia quem advogasse que a cultura germânica encerrava o conhecimento mais profundo das ciências e das letras da humanidade. Discutia-se quase sempre, não sem algum elitismo, os caminhos para a sabedoria.
Hoje em dia o cenário é outro. Com os imperativos económicos que foram surgindo, levando a que o ponteiro da bússola civilizacional teimasse para a necessidade do comércio mundializado, a língua inglesa impôs-se no ensino de forma avassaladora sobrepondo-se a todas as outras línguas. Assim, de imediato, podemos concluir que a escolha académica sucumbiu perante as necessidades profissionais. Os jovens, nos programas curriculares gerais, não mais tiveram acesso normativo ao francês… que terá sido classificado pelas gerações anteriores de uma língua vasta, sábia, doce e subtil…
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Isto tudo para dizer o quê? Seria desadequado, muito arriscado e fastidioso tecer aqui uma longa dissertação dobre a linguagem e as suas revelações…
O que quero tão-somente é dar-vos conta de um pequeno episódio passado ao balcão da bilheteira de um cinema. Perguntei à menina porque é que determinado filme, sendo de entre todas as sessões a opção cinematograficamente mais credenciada, só era exibido apenas uma vez por dia enquanto que a maioria dos filmes era apresentada em três e mais sessões repetidas. O meu espanto foi total com a sua amável explicação: «Sabe, é um filme francês com muito pouca audiência. As pessoas não gostam dos filmes em língua francesa, faz-lhes confusão…»
Olhei para o resto do catálogo: de facto os filmes eram esmagadoramente americanos. Acabei por ter que escolher um cujo horário me conviesse.
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Agora não paro de cismar no nascimento do cinema, na sua ascensão a arte maior, no melhor cinema de referência francês. Depois fico a rever a história do pensamento racional, da divisão dos poderes democráticos, da liberdade…que sei eu… é um nunca acabar de marcos culturais franceses! Depois dou comigo a pensar que os povos que foram colonizados por uma língua acabaram por esboroar a sua própria cultura. Eu não sei se isso é bom ou é mau, sei que os bárbaros destruíram o Império Romano. Sei ainda que os Estados Unidos têm pouco mais de dois séculos de existência… no entanto dados concretos permitem saber que algumas elites da sua população devoram avidamente a sabedoria do velho continente!...

Nuno G. Ferreira

20 janeiro 2007

O grande simulador


O mundo começou sem o homem
e acabará sem ele.
Claude Lévi-Strauss (1908 - )

Nada nos garante, antes pelo contrário, que a nossa espécie permanecerá. Como tudo o resto transportamos progresso e ruína e não somos, antropologicamente, quem fomos nem aquilo que seremos. Não podemos saber exactamente o que mudou na nossa estrutura biológica nos últimos cem anos, porém temos por certo que algo mudou, ou de outro modo todas as ciências humanas estariam erradas.
Também os nossos “estados de alma” se transformarão como tem acontecido sempre até aqui. Os dramas que nos comovem ou exasperam, e que se aproximam por estes dias mais da representação que da realidade, quiçá perderão relevância à força do desengano, na constante repetição encenada… Livramo-nos constantemente do estorvo da indigência e da desmoralização apenas com uma finta de corpo no passo apressado para o sucesso que urge. Num próximo futuro porventura deter-nos-emos, não por egocêntrica piedade, mas para cismar nas causas de tal revés, onde nos incluiremos.
Conta-se que no século XV os nossos ilustres antepassados rapavam as barbas, que usavam fartas em sinal de distinção, quando se sentiam cair em desonra. É provável que o tempo aniquile o conceito da mesma forma que ridicularizou o gesto.
Da crueldade física ao desprezo intelectual muito se caminhou. Mas eis o prodígio individual, veio para vencer, não importa que jogo, não importa a que preço, o que lhe interessa é ganhar! Talvez que esteja já aí o maior simulador de sempre, que ganhou todos os jogos de simulação e que transformará o mundo num simulacro ideal!

Cátia Farias

19 janeiro 2007

Signos XII

18 janeiro 2007

À descoberta das Índias


De repente, de um dia para o outro, a Índia acordou um país desenvolvido, tecnologicamente avançadíssimo, uma lição de progresso para todos. A China também…Qualquer dos colossos asiáticos, com mais do dobro do número de habitantes do que a União Europeia no seu todo, para além de possuírem ambos a bomba, e de possuírem toda a tecnologia necessária para isso e para muito mais, continuam a aguentar a fome e a miséria extremas em vastas áreas dos seus territórios. O saneamento básico, a electricidade e o abastecimento de água não estão ainda assegurados em toda a sua imensa geografia.
Ao enaltecerem os índices de desenvolvimento económico as nossas “inteligências” esquecem-se de explicar que quando os níveis são muito baixos um enorme crescimento em termos numéricos está longe de estabelecer de imediato situações de vida sequer aceitáveis aos cidadãos em causa, uma vez que o multiplicando é demasiado baixo.
É claro que não estavam à espera de, em vez de se assistir ao Sr. Presidente deslumbrado nos jardins das melhores universidades do mundo, ter que assistir ao espectáculo pouco mediático da pobreza andrajosa a rodeá-lo no meio das ruas impraticáveis de algumas cidades da Índia.
Como bons provincianos que somos tomamos o todo pela parte e deixamo-nos encantar por historinhas da carochinha como se fossemos agora descobrir de onde trazer a pimenta e levar a pólvora enriquecendo de repente.
Bem, cá por mim, se estivesse à espera de ser Presidente da República para visitar a Índia bem tinha que esperar sentado!

Filipe Taveira

16 janeiro 2007

Um site por semana


O sítio da semana
[03]

14 janeiro 2007

Civilizações e Impérios

Aqui e ali jorra o pus infecto das nossas discórdias provando bem a rudeza da nossa imatura civilização. Aparentemente o confronto abjecto é necessário para, subjugando uns, aproveitar a outros.
Contudo os dias que nos magoam são de bruma e só o tempo trará a limpidez suficiente para perceber a infecção que há-de gerar anticorpos medonhos. Quando os detectarmos saberemos que este presente os gerou.
Ódios velhos, enraizados, ancestrais, inexplicáveis, étnicos, violentos, desumanos, brotarão um dia em cérebros jovens que fatalmente se enredarão nas circunvoluções de estranhas crenças fratricidas.
Não há passo que dêmos que não contenha em si o futuro…

Alice T.

11 janeiro 2007

O "desaire"


“Uma guerra é justa quando é necessária”
Nicolau Maquiavel (1469-1527)

Por certo que os que convenceram o mundo que o Iraque tinha armas de destruição em massa são os mesmos que apaziguam agora a consciência do mundo com o “desaire” dos Estados Unidos.
De facto na realidade as coisas são bem diferentes. Se por um lado não havia arsenais nucleares também o sucesso das operações, pese embora alguma derrapagem no tempo, parece ser um facto.
Pois é disso que se trata, de factos, porque colocando de lado as visões mais ou menos dramatizadas dos mais néscios e as explicações intrincadas das mentes mais rebuscadas, assinalemos alguns dos objectivos atingidos para a instalação do poder americano na região:
a) Invasão sob qualquer pretexto: cumprido!
b) Aniquilamento do regime e dos seus líderes: cumprido!
c) Instauração de um governo favorável: cumprido!
d) Fomento e manutenção de uma beligerância sectária de legitimação do poder ocupante: cumprido!
e) Argumentação plausível para o reforço militar: cumprido!
Não existem pois até aqui razões para os grandes estrategas da cena planetária – aqueles que nunca aparecem – deixarem de considerar que os passos se vão dando… Porque como nós vivemos do fogacho instantâneo alguém tem que ter planos, para si e para os seus vindouros, a curto, médio e longo prazo. Não se preocupem: eles vigiam as etapas mais importantes!...

Filipe Taveira

08 janeiro 2007

Signos XI

06 janeiro 2007

Antes que a História nos surpreenda

março 2003************** click webcast

Antes que a História nos surpreenda, refresquemos a memória.
Uns minutos de reflexão sempre valem a pena já que presente e futuro residem em grande parte no passado…
Ponderemos nos encadeamentos da História e que isso nos ajude a escapar um pouco às inverdades do quotidiano fugaz, desalmado, confuso, de interpretações espectaculares mil, já que é delas que, quer queiramos quer não, vamos enchendo por estes dias as nossas vidas!

Vasco Sousa

05 janeiro 2007

O “nosso” EXPR



A política, um ano que foi, um ano que vem!...

Depois de Sócrates festejar o Natal a dizer que as coisas estão cada vez melhor com tendência para melhorar e o “homem da cooperação estratégica” ter entrado em 2007 a asseverar que “está cá para ver”, foi grande diversão, para alguns, ter visto esta noite o “nosso” EXPR (ex-presidente da república) numa entrevista aparentemente fora de época.
Jorge Sampaio não conseguiu ainda despir a farda institucional, embora garanta já o ter feito, respondendo apenas ao que lhe apeteceu responder e negando-se envolver em qualquer assunto mais polémico e menos “oficial”. Foi constrangedor sentir que tantos anos de treino não foram suficientes para o EXPR contornar os assuntos de forma mais ou menos diplomática, no bom sentido do termo, respondendo honesta e elegantemente às questões que Judite de Sousa, a sempiterna entrevistadora de serviço da RTP1, lhe colocou e que, em abono da verdade, não eram assim tão difíceis de responder como isso…
O EXPR escudou-se em várias ocasiões atribuindo-se a si próprio uma posição que já não tem, arrefecendo a entrevista e desiludindo certamente um grande número de espectadores que esperavam que a maior liberdade, que lhe outorga o seu estatuto político actual, lhe facultaria a possibilidade de expor com distinção e objectividade as suas concepções a favor e contra o que quer que fosse, contra e a favor quem quer que fosse!
Talvez que assim tivesse sido melhor. Pois, afinal, quem são os portugueses para merecerem mais que isso? «Claro, a turba é ignorante, não podemos entrar em grandes pormenores com a plebe… misturemo-nos com ela, confundamo-nos com ela… que o “povo” veja bem que estamos do seu lado, mas cuidado… ele nunca poderá saber ou sequer sonhar quais são as nossas verdadeiras intenções (quando as tivermos, é evidente)!...». Pareceu-me sempre ser este o alter-ego do EXPR, um ginasta aplicado entre popular e intelectual, poucas vezes percebido pelos menos instruídos e bastas vezes mal entendido pelos mais letrados. Continua na mesma, mais gordinho talvez. Gostei de o ver, atropelando-se nas palavras como sempre, o verbo fácil, tão fácil que a alturas tantas já soa a verborreia. “Quem muito fala…”. Não, não pensem que tenho qualquer antipatia ou malquerença contra tão inequívoca inteligência e entusiasmo personificados, não. Talvez seja esse o problema… Há quem diga que dos benquistos não reza a História. Ou se não é bem assim, é assim que me exprimirei, pois estou certo de que este presidente ainda perdurará por algum tempo na memória dos mais vindicativos, mas não passará muito tempo para que a História o varra para o grande grupo dos ilustres esquecidos. Ai de nós!
Gostava de estar enganado. Ainda temos tempo?!…


Vasco Sousa