28 fevereiro 2007

Signos XV


25 fevereiro 2007

Uma ficção indecorosa

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É sabido que a presunção discursiva contribui para um determinado bem-estar psíquico, não só pelo agrado do convencimento e estima que ela confere, mas ainda pelo mais que provável tom de convicção que dela emana para os que prestam atenção e do prazer pelo reflexo que deles se desprende sempre que se atinge o efeito de persuasão desejado.
Claro que desde a simples suposição mais ou menos assertiva até à incómoda atitude de total pedantismo vão inúmeros graus de presunção sendo que os mais comuns são inofensivos, fúteis, quotidianos e claro “não tributáveis”…
Todavia há que ter bem ciente que a esmagadora maioria das asserções presunçosas fazem parte de uma certa mentalidade e mais classificam quem as diz do que convencem, numa segunda reflexão, os respectivos auditórios. Isto porque pertencem inequivocamente ao domínio da ficção e não da realidade objectiva. Assim, a presunção ou se insere no campo da opinião sendo portanto subjectiva ou da conjectura pura e simples, não explorando já a pertinência moral da jactância que frequentemente lhe está associada. Em qualquer dos casos a presunção é pertença do imaginário.
Nos tempos que correm a opinião e os fazedores de opinião invadem os “meios de comunicação”. Acontece que aí as abundantes presunções são maioritariamente ideológicas e o mais das vezes meramente sectárias. Isto não é bom nem é mau, é próprio da nossa época. A questão a ter bem presente é o carácter ficcional que acaba fatalmente por se instalar, e que nos obriga a uma cada vez maior atenção e frieza nos juízos que fazemos. Não diria uma desconfiança sistemática mas um estado de alerta constante torna-se imprescindível.
Nos protagonistas do Poder, também eles parte da fantasia mediática, infelizmente o descalabro (porque mais primário, menos profissionalizado) ainda é maior, descambando quantas vezes para a mais pueril demagogia!
Por exemplo, quando alguém diz «Antes de decidir, ponderarei com muito bom senso (…)» tenhamos bem presente que a afirmação se insere no âmbito da completa ficção. Pois, de facto (objectivamente, na realidade), como é que alguém pode afirmar de si próprio que usa de “muito bom senso” na análise do que quer que seja? Mesmo que tenhamos que reflectir com toda a sensatez de que formos capazes, não serão os outros a ajuizar? A isto chama-se presunção. Inocente, talvez, mas presunção. Não, não é apenas uma questão de linguagem. Por mais insignificante que possa parecer é uma representação de mais um rastilho para a contaminação geral e consumação de uma comunidade verdadeiramente fictícia.


Cátia Farias

23 fevereiro 2007

Ponderação à moda do Chefe (sem picante)


22 fevereiro 2007

Um cartaz de luxo


O Pavilhão Atlântico foi palco de um Megaconcerto no passado sábado.
Reuniram-se as maiores vedetas pop/rock do país.
Sim, são todos muito bons.
Sobretudo todos muito jovens…
Ainda há quem diga que Portugal está a envelhecer!

Nuno G. Ferreira

19 fevereiro 2007

Um site por semana


O sítio da semana
[08]

S.O.S. de redundâncias

Ass.: "aqui e agora"
Cara pessoa:

As contendas que nos consomem tornam-se o “aqui e agora”. Se pensarmos que são de facto isso – o “aqui e agora” – talvez possamos fazer dessas contendas apenas contendas e do “aqui e agora” a nossa casa para que a arrumemos em condições de sermos felizes. Convenço-me que dessa maneira não haverá contendas que nos consumam e apenas nos debateremos juntos para chegar a um “aqui e agora” ainda melhor!

Sempre a estimá-la,

Nuno G. Ferreira

17 fevereiro 2007

Os pré-socráticos

“Educai as crianças e não será preciso punir os homens.”
........................................................Pitágoras de Samos

À minha volta tudo se altera. Quanto mais observo mais evidente me parece ser a mudança. Contudo apercebo-me que as mudanças se fazem de múltiplas maneiras e a muito diversas velocidades. E quase me espanto por verificar também que há ideias quase estáticas há centenas, talvez milhares de anos.
Por estes dias ando às voltas com os pré-socráticos e as suas filosofias. Aparentemente em muitos aspectos pouco se avançou no conhecimento ou seja no que se chama a “teoria do conhecimento”: é espantoso verificar onde chegaram os Gregos e o pouco que se avançou no muito que se caminhou… Ou talvez não. Afinal o que são três mil anos?!
Naquele tempo os deuses eram muitos, porém existiam excelentes conceitos de Justiça, de Bem e de Belo, por exemplo. O próprio Platão conta que Sócrates viria a morrer pela sua Verdade!
Será que os nossos orgulhosos monoteísmos nos fizeram perder muito tempo com a matéria? Ou, será que há um tempo privilegiado para tudo? Os privilégios que são os do nosso tempo fazem da minha leitura dos pré-socráticos uma agradável e nostálgica recreação!...


Cátia Farias

14 fevereiro 2007

Signos XIV


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09 fevereiro 2007

O plebiscito


Para vos dar: apenas dúvidas.
Tenho medo dos que gritam certezas aos sete ventos que nem timidamente sussurradas a serenidade suportaria! Confundem-me convicções graníticas na volatilidade dos dias, na impossibilidade de saber que essência, que devir.
Poderia talvez mimeticamente acreditar, deixar de ser só, agrupar numa qualquer ideia razoável, num compartimento social. Aflige-me a turba acéfala, com retóricas de campeonato, em desacordos garridamente pueris.
Sei que é a caverna que habito que me encerra neste enredo mas garante-me o passado que, entre todas as coisas, a coisa humana que sou está certamente muito distante da sua última morada e muitas mutações se sucederão. Quem me dirá o tempo, quem me dirá o princípio e o fim? Cada tempo, cada deus. Cada deus, cada crença. Se nem ainda provamos existir!… Cada instante é sem dimensão, cada memória uma incerteza.
Não, não serei eu a atirar a pedra!...
Para vos garantir: não serei eu a condenar.

Neste particular, contai comigo para perdoar ou seja para concordar e para o resto


Alice T
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07 fevereiro 2007

"Calçadeiras à solta"



Que haja quem tome defeitos por qualidades e faça disso matéria publicitária, no estilo «invista em Portugal, que os salários dos trabalhadores são baixos»; enfim…
Que quem diga isso seja o ministro da Economia de Portugal em visita à China por estes dias onde, se os chineses não interpretarem as suas asserções sobre custos de mão-de-obra como intencionalmente sarcásticas, no mínimo hão-de pensar que os tomam, a eles chineses, por ignorantes, que é aquilo que eles não são, pois há muito que fazem análises económicas sobre todo o Mundo, incluindo a Europa evidentemente e, claro está, Portugal que já conhecem de longa data; enfim…
Que isso aconteça e possa parecer uma enormidade tal para os portugueses que, por isso mesmo, passem as peripécias acessórias da viagem à frente dos pormenores mais essenciais; enfim…
Que a inteligência dos portugueses não consiga sossegar com o que parece ser uma provocação à sua condição real, totalmente distinta da que resultaria das ideias de avanço tecnológico prometidas pelo primeiro-ministro Sócrates, o qual veio expressamente a público fazer a defesa esfarrapada dos argumentos do seu ministro da economia Manuel Pinho; enfim…
Que o ministro das Finanças em tirada muito pouco inspirada, diga que Portugal estará em posição privilegiada para ajudar os chineses a negociar em África, quando no virar do século toda a gente se deu conta da “ocupação” desenfreada que a China desencadeou em África e em Angola de forma avassaladora (por razões evidentes) sem nunca nos vir perguntar sequer como se diz “estratégia” em português, e de tal forma que os Estados Unidos já estão deveras preocupados com tudo isso; enfim…

Bem, que tudo isso aconteça é com certeza muito desolador, mas contudo não é grave. Talvez anedótico, mas muito grave não, convenhamos. Tudo isso apenas tem o inconveniente de degradar a discussão política e de nos confrontar com os deslizes devidos à mudança de fusos horários e de alguma inépcia dos nossos governantes. Ridicularias, em todos os sentidos, nada mais!
O que é realmente grave é outra coisa! O que é grave, o que não se pode perdoar de todo, é que o partido do Governo disponha no órgão soberano dos media – a televisão – de formas mais ou menos encapotadas (e talvez até ilegais) de moldar a opinião da população para a sua conveniência. Como já devem ter adivinhado falo da tribuna do socialista António Vitorino na RTP1, televisão pública. Como se trata de “diz que é uma espécie de entrevista”, sem qualquer contraditório, vimos nesta última sessão serem arredondadas todas as arestas que pudessem ferir quaisquer susceptibilidades relativas à viagem do Governo à China transformando o anedótico mau desempenho numa participação próxima do exemplar. Qualquer intenção de esclarecer verdadeiramente o público ficou absolutamente submersa pela preocupação em fazer propaganda política de forma descarada, demagógica e pouco dignificante para tão brilhante orador e até mesmo para a tão prestigiada Judite de Sousa (que neste formato mais parece uma colegial, intelectualmente falando, claro...).
Sim, isso sim, isso é que é grave: a função da comunicação pública, os valores, os princípios, a liberdade de pensamento, tudo está em causa.
Não se trata em exclusivo da pessoa de António Vitorino, que com certeza faz o melhor que pode e o melhor que sabe, trata-se do sistema que permite que esse tipo de programas continuem a poder acontecer. Programas onde, de forma unilateral e continuada, determinadas eminências, todavia intelectualmente comprometidas, possam exprimir aquilo que muito bem lhes convém sem nenhuma forma de contraposição, apenas perante um “pseudo entrevistador” politicamente correctíssimo. Os intelectuais que se prestam a esse papel de “pregadores” fazem, esses sim, o papel de calçadeiras: são as calçadeiras* ao serviço de certas opiniões e ideologias para que estas entrem bem no imaginário de um povo. Embora se diga, em abono da verdade, que este povo já vai estando farto de imaginar!

*calçadeira: instrumento para ajudar a calçar botas ou sapatos ou para outros fins sociopolíticos e económicos. (palavra usada por Teixeira dos Santos, ministro das Finanças, para definir o papel de Portugal como facilitador das relações entre a China e a África...)

Filipe Taveira

04 fevereiro 2007

Um site por semana


O sítio da semana
[05]

01 fevereiro 2007

"In cooperare conspirate"!


Fomos praticamente obrigados a aceitar como verdade irrefutável o facto de ser a competição o factor de maior progresso e desenvolvimento da sociedade. E então tudo se coloca em termos de factores de concorrência, em índices competitivos. Será talvez a maior enormidade dogmática do nosso tempo! De tal maneira que só muito poucos matarão a cabeça a pensar que poderá não ser assim, que poderão existir para além disso outras formas de evolução, uma qualquer ideia de sociedade de cooperação.
Pensemos que se é um facto que no desporto é obrigatório competir para que se estimulem as capacidades físicas já o mesmo não podemos dizer quanto às propriedades inventivas e criativas do pensamento e nas suas repercussões directas nos avanços ou aperfeiçoamentos do conhecimento e das tecnologias ao serviço da humanidade…
Sim, é um facto que as teorias económicas assentam actualmente na concorrência, na competição. A comercialização e o bem-estar apresentam-se como absolutamente dependentes dessa abordagem. E depois, se o mercado é mundial, quem ficar de fora, quem não puder competir dentro de pressupostos mais ou menos idênticos perderá a corrida… e degradar-se-á até à desgraça total. Em termos simples, parece existir uma única via: as sociedades vivem voltadas para a produção e aquisição de bens materiais competindo entre si para viabilizar o que acreditam ser uma existência minimamente confortável dos indivíduos. Este princípio alastra-se a todas as normas de comportamento, contagiando todos os valores, no que parece ser uma gigantesca e macabra olimpíada, mais supérflua que proveitosa, e nunca por nunca a razoabilidade de uma espécie que se sabe biologicamente irmanada e fatalmente dependente de um projecto comum!
Vasco Sousa