"Calçadeiras à solta"
Que haja quem tome defeitos por qualidades e faça disso matéria publicitária, no estilo «invista em Portugal, que os salários dos trabalhadores são baixos»; enfim…
Que quem diga isso seja o ministro da Economia de Portugal em visita à China por estes dias onde, se os chineses não interpretarem as suas asserções sobre custos de mão-de-obra como intencionalmente sarcásticas, no mínimo hão-de pensar que os tomam, a eles chineses, por ignorantes, que é aquilo que eles não são, pois há muito que fazem análises económicas sobre todo o Mundo, incluindo a Europa evidentemente e, claro está, Portugal que já conhecem de longa data; enfim…
Que isso aconteça e possa parecer uma enormidade tal para os portugueses que, por isso mesmo, passem as peripécias acessórias da viagem à frente dos pormenores mais essenciais; enfim…
Que a inteligência dos portugueses não consiga sossegar com o que parece ser uma provocação à sua condição real, totalmente distinta da que resultaria das ideias de avanço tecnológico prometidas pelo primeiro-ministro Sócrates, o qual veio expressamente a público fazer a defesa esfarrapada dos argumentos do seu ministro da economia Manuel Pinho; enfim…
Que o ministro das Finanças em tirada muito pouco inspirada, diga que Portugal estará em posição privilegiada para ajudar os chineses a negociar em África, quando no virar do século toda a gente se deu conta da “ocupação” desenfreada que a China desencadeou em África e em Angola de forma avassaladora (por razões evidentes) sem nunca nos vir perguntar sequer como se diz “estratégia” em português, e de tal forma que os Estados Unidos já estão deveras preocupados com tudo isso; enfim…
Bem, que tudo isso aconteça é com certeza muito desolador, mas contudo não é grave. Talvez anedótico, mas muito grave não, convenhamos. Tudo isso apenas tem o inconveniente de degradar a discussão política e de nos confrontar com os deslizes devidos à mudança de fusos horários e de alguma inépcia dos nossos governantes. Ridicularias, em todos os sentidos, nada mais!
O que é realmente grave é outra coisa! O que é grave, o que não se pode perdoar de todo, é que o partido do Governo disponha no órgão soberano dos media – a televisão – de formas mais ou menos encapotadas (e talvez até ilegais) de moldar a opinião da população para a sua conveniência. Como já devem ter adivinhado falo da tribuna do socialista António Vitorino na RTP1, televisão pública. Como se trata de “diz que é uma espécie de entrevista”, sem qualquer contraditório, vimos nesta última sessão serem arredondadas todas as arestas que pudessem ferir quaisquer susceptibilidades relativas à viagem do Governo à China transformando o anedótico mau desempenho numa participação próxima do exemplar. Qualquer intenção de esclarecer verdadeiramente o público ficou absolutamente submersa pela preocupação em fazer propaganda política de forma descarada, demagógica e pouco dignificante para tão brilhante orador e até mesmo para a tão prestigiada Judite de Sousa (que neste formato mais parece uma colegial, intelectualmente falando, claro...).
Sim, isso sim, isso é que é grave: a função da comunicação pública, os valores, os princípios, a liberdade de pensamento, tudo está em causa.
Não se trata em exclusivo da pessoa de António Vitorino, que com certeza faz o melhor que pode e o melhor que sabe, trata-se do sistema que permite que esse tipo de programas continuem a poder acontecer. Programas onde, de forma unilateral e continuada, determinadas eminências, todavia intelectualmente comprometidas, possam exprimir aquilo que muito bem lhes convém sem nenhuma forma de contraposição, apenas perante um “pseudo entrevistador” politicamente correctíssimo. Os intelectuais que se prestam a esse papel de “pregadores” fazem, esses sim, o papel de calçadeiras: são as calçadeiras* ao serviço de certas opiniões e ideologias para que estas entrem bem no imaginário de um povo. Embora se diga, em abono da verdade, que este povo já vai estando farto de imaginar!
Que quem diga isso seja o ministro da Economia de Portugal em visita à China por estes dias onde, se os chineses não interpretarem as suas asserções sobre custos de mão-de-obra como intencionalmente sarcásticas, no mínimo hão-de pensar que os tomam, a eles chineses, por ignorantes, que é aquilo que eles não são, pois há muito que fazem análises económicas sobre todo o Mundo, incluindo a Europa evidentemente e, claro está, Portugal que já conhecem de longa data; enfim…
Que isso aconteça e possa parecer uma enormidade tal para os portugueses que, por isso mesmo, passem as peripécias acessórias da viagem à frente dos pormenores mais essenciais; enfim…
Que a inteligência dos portugueses não consiga sossegar com o que parece ser uma provocação à sua condição real, totalmente distinta da que resultaria das ideias de avanço tecnológico prometidas pelo primeiro-ministro Sócrates, o qual veio expressamente a público fazer a defesa esfarrapada dos argumentos do seu ministro da economia Manuel Pinho; enfim…
Que o ministro das Finanças em tirada muito pouco inspirada, diga que Portugal estará em posição privilegiada para ajudar os chineses a negociar em África, quando no virar do século toda a gente se deu conta da “ocupação” desenfreada que a China desencadeou em África e em Angola de forma avassaladora (por razões evidentes) sem nunca nos vir perguntar sequer como se diz “estratégia” em português, e de tal forma que os Estados Unidos já estão deveras preocupados com tudo isso; enfim…
Bem, que tudo isso aconteça é com certeza muito desolador, mas contudo não é grave. Talvez anedótico, mas muito grave não, convenhamos. Tudo isso apenas tem o inconveniente de degradar a discussão política e de nos confrontar com os deslizes devidos à mudança de fusos horários e de alguma inépcia dos nossos governantes. Ridicularias, em todos os sentidos, nada mais!
O que é realmente grave é outra coisa! O que é grave, o que não se pode perdoar de todo, é que o partido do Governo disponha no órgão soberano dos media – a televisão – de formas mais ou menos encapotadas (e talvez até ilegais) de moldar a opinião da população para a sua conveniência. Como já devem ter adivinhado falo da tribuna do socialista António Vitorino na RTP1, televisão pública. Como se trata de “diz que é uma espécie de entrevista”, sem qualquer contraditório, vimos nesta última sessão serem arredondadas todas as arestas que pudessem ferir quaisquer susceptibilidades relativas à viagem do Governo à China transformando o anedótico mau desempenho numa participação próxima do exemplar. Qualquer intenção de esclarecer verdadeiramente o público ficou absolutamente submersa pela preocupação em fazer propaganda política de forma descarada, demagógica e pouco dignificante para tão brilhante orador e até mesmo para a tão prestigiada Judite de Sousa (que neste formato mais parece uma colegial, intelectualmente falando, claro...).
Sim, isso sim, isso é que é grave: a função da comunicação pública, os valores, os princípios, a liberdade de pensamento, tudo está em causa.
Não se trata em exclusivo da pessoa de António Vitorino, que com certeza faz o melhor que pode e o melhor que sabe, trata-se do sistema que permite que esse tipo de programas continuem a poder acontecer. Programas onde, de forma unilateral e continuada, determinadas eminências, todavia intelectualmente comprometidas, possam exprimir aquilo que muito bem lhes convém sem nenhuma forma de contraposição, apenas perante um “pseudo entrevistador” politicamente correctíssimo. Os intelectuais que se prestam a esse papel de “pregadores” fazem, esses sim, o papel de calçadeiras: são as calçadeiras* ao serviço de certas opiniões e ideologias para que estas entrem bem no imaginário de um povo. Embora se diga, em abono da verdade, que este povo já vai estando farto de imaginar!
*calçadeira: instrumento para ajudar a calçar botas ou sapatos ou para outros fins sociopolíticos e económicos. (palavra usada por Teixeira dos Santos, ministro das Finanças, para definir o papel de Portugal como facilitador das relações entre a China e a África...)
Filipe Taveira
5 comments:
Sem discordar do que aqui expões, mas apenas gostava de lembrar que é também na RTP que ainda se passeia essa personagem dúbia que dá pelo nome de Marcelo Rebelo de Sousa. Podiam pegar nos dois e deixá-los a boiar no Tejo...
Portugal como calçadeira = Portugal a cheirar mal e Portugal a fazer o que sabe melhor que é o "desenrasca"! Na verdade, a coisa acaba por não estar mal vista...
As opiniões de Vitorino ou as opiniões de Marcelo são tudo menos independentes. Infelizmente não existem suficientes Gatos Fedorentos para o contraditório.
Concordo plenamente com o que diz e, embora com a devida diferença entre televisão pública e privada,faço notar que os "fazedores de opiniões" da sic são tambem muito preocupantes se atentarmos á forma subliminar que usam para o fazer.
Chocou-me quando no sáb.,vésperas de referendo,e sendo bem sabido que são as 24h. de reflexão antes de uma qualquer votação de silencio por obrigação e bom senso,chocou-me ,dizia eu,que nos telejornais se tenha transmitido toda uma panóplia de noticias que envolviam bébés.Desde o ensino da leitura a bébés,passando pelo parto da senhora X que correu tão bem ,as noticias choviam em catadupa fazendo-nos apreciar quão bela é a vida e a solidariedade e etc e tal.
E consequentemente pensar ,ou duvidar ou no minimo,e finalmente, decidir em que é que se vai votar no dia seguinte.
Que subliminar!
E tudo isto seguido por uma telenovela habilmente escolhida há meses(!)não sem algum burburim pois parece que era suposto ser outra.
Coincidencias?
Se lermos nas entrelinhas não me parece.
Pergunto:
Não terá o Big Brother já fraccionado uma parte do nosso raciocinio livre fazendo-nos crer que são apenas associações de ideias paranoicas,no lugar de nos permitir estar atentos e alerta mantendo um pensamento critico ,senão isento,pelo menos nosso?
Que Comunicação,que Poder é este que nos governa sem mandato?
Ibis,
Assino em baixo.
Tudo!
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