É mais que certo que somos, tal como os nossos antepassados e os nossos vindouros, coisa efémera, mera migração de genes…
Anima-nos, neste XXIº século desta era, já no seu sétimo ano, a investigação das leis de reconhecimento e transmissão genéticas. Bem podemos pasmar ante a revelação dos segredos da vida, desde a sua formação até ao momento actual e até das combinações mais prováveis que
conjecturam o futuro. Ainda mais nos deslumbrará, evidentemente, a infinidade de aplicações possíveis através da manipulação dos genes, com todas as suas previsíveis e imprevisíveis consequências. A epistemologia tenta afincadamente definir os contornos e destrinçar as ciências de tudo aquilo que, objectivamente, não lhe pertence: política, religião, moral, opinião, mass media, etc., aparentemente com algum sucesso, mas não sem grande dificuldade e com algumas
áreas cinzentas difíceis de evitar.
Tenhamos acima de tudo a consciência que, com maior ou menor velocidade, o progresso da ciência genética é imparável, sendo difícil de admitir que o público comum, individual ou socialmente, se inteire satisfatoriamente dos seus avanços e das suas extraordinárias possibilidades e perspectivas.
É inevitável que aqui nos venha à memória a criatividade do genial Aldous Huxley que no seu "Brave New World" (“Admirável mundo Novo”) vislumbra uma sociedade futura em que os homens são susceptíveis de ser geneticamente programados… Nesta obra de ficção, publicada surpreendentemente em 1932, Huxley levanta questões que o presente continua a colocar, cada dia com mais premência. Talvez a sua leitura estimule aqueles que se desinteressam destes assuntos da genética e das novidades da biotecnologia. Pode ser que com isso abram mais uma brecha nas sugestões culturais feitas-por-medida deste impreterível quotidiano.
De qualquer das maneiras, o nosso código genético obrigar-nos-á, implacavelmente, a cumprir o que será sempre a nossa obrigação: reproduzirmo-nos!
Por mais que isso nos custe…
Cátia Farias