01 dezembro 2006

Ver em que param as modas


Estamos num tempo em que a convivência com os meios disponíveis para uma interacção rápida que define e caracteriza a nossa forma de estar no mundo obriga a um regime comportamental adequado. Os meios mecânicos e electrónicos à nossa volta ditam os procedimentos mais adequados para supressão dos conflitos e estabelecimento de padrões de conforto aceitáveis.
Por estranho que possa parecer é de moda que falo!
De uma forma ou de outra em todas as épocas as modas, se estudadas como parte da História, revelam, como não podia deixar de ser, toda a envolvente social com as suas contradições inerentes e na sua correspondência directa com as artes e ofícios das respectivas etapas da evolução humana. Embora haja actualmente factores diversos que tornam mais subtil a interligação da moda com o modus vivendi das sociedades, ninguém se imagina nos dias de hoje a entrar e sair dos meios de transporte com roupas do século XVI que sendo demasiado compridas ou folgadas diminuiriam drasticamente a segurança de tais acções.
Parece-me evidente que a moda acaba sempre por ser o reflexo dos tempos acrescentando-lhe significados, atributos e particularizações que não se poderão de todo desprezar.
Afigura-se ser de relativa facilidade identificar um traje. Datá-lo, caracterizar socialmente quem o usou e especular sobre aquilo que o terá apaixonado ou no mínimo aquilo em que acreditou…
Toda a moda aparece com os exageros próprios de tudo que envolve criatividade. Mas até na excentricidade das formas, dos atavios, das cores, poderemos retirar muitas lições. O excesso aparece envolto dos estereótipos e ilusões da cultura donde emana. Depois de subtraída a mera exuberância a relação entre modelo e sua razão de ser poderá fazer-se quase naturalmente.
A tentativa de caracterizar o dealbar do nosso século XXI através dos padrões da moda ajudar-nos-á com certeza a perceber melhor onde estamos e que escala de valores é que adoptamos…

Filipe Taveira

_______________________________

Nota:
(Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora)

moda
s. f.
uso corrente;
costume;
gosto;
fantasia;
maneira essencialmente mutável e passageira de se comportar e, sobretudo, de se vestir;
cantiga;
ária;
(estatíst.) o valor mais frequentemente representado numa série de observações;

à ~ de:
segundo a maneira de conceber ou de organizar as coisas de;

andar na ~:
vestir o que mais se usa;

passar de ~:
deixar de se usar;
deixar de ser do gosto da maioria;

ver em que param as ~s:
esperar que se modifique qualquer conjuntura actual para se tomar uma atitude definitiva.

(Do lat. modu-, «medida; modo», pelo fr. mode, «moda»)

2 comments:

Anonymous Anónimo said...

Gostei bastante deste texto.

Acho que liga bem a um que já escreve sobre as modas.

Realmente a moda diz da sociedade mais do que parece à primeira vista.

Aquilo que eu disse, no meu texto, é que o ser humano comum passa pela moda, na sua mutação constante, sem a absorver totalmente, não tendo de mudar radicalmente de estilo cada vez que a tendência se altera.

2/12/06 12:40 da manhã  
Blogger Caiê said...

A moda é, muitas vezes, revivalista. Será porque a imaginação nunca é original por si só? ...

3/12/06 4:42 da tarde  

<< Home