15 dezembro 2006

Uma longa vaia

O nosso mundo é sempre o mais importante uma vez que é o nosso. As nossas pequenas e insignificantes misérias são os acontecimentos mais relevantes do globo. Enchem-nos os dias, percorrem-nos os neurónios. E por isso constituem o nosso “nada que é tudo”. O que está longe é ficção maior e o que nos envolve mais de perto, que nos é familiar, que é naturalmente conotado connosco, é toda a nossa realidade.
Por isso todos os meios de comunicação, impressos e audiovisuais, enquanto alargam os nossos horizontes culturais e intelectuais, apresentam-se como um bem maior. Passamos a sentir mais próximas as terras distantes, os assuntos mais universais. Passamos a ter a bela ilusão de nos tornarmos cidadãos do mundo, fazendo parte de uma equação de dimensão planetária.
É claro que, com a profusão de meios de difusão que existe, vamos seleccionando consciente e conscientemente tudo o que se nos afigura credível, digno da nossa confiança. O nosso processo mental vai separando o teor da ganga a grande velocidade, na legitimação dos critérios através dos nossos padrões, no confronto constante com a qualidade e intenções do emissor. Porque há de tudo, desde a honesta e desinteressada informação, a soberba e edificante ficção, o poema eterno, até à mais refinada e repugnante forma de obtenção de lucro imediato, passando como é evidente por todas as posições intermédias.
Como não estamos em época de esbanjamentos, falsas promessas ou enredos pinga-amor, passaremos a ter mais cuidado com aqueles cuja intenção é duvidosa e nada abonatória de quem se arvora em defender a cultura e as letras!...
Miguel Cervantes já terá a esta hora vociferado mil imprecações pelo uso do nome do Quixote em vão, ou para o puro e simples enxovalho público.
Portanto, aqui fica um grande apupo, não para aqueles que de uma forma emotiva e ingénua colocam a vida nos palcos mediáticos, mas para aqueles que, de uma forma fria, calculada e calculista se colocam ao serviço desta “glória”. Falo, claro está, da editora que viabilizou de forma eficiente o lançamento das “mágoas da mártir Carolina" causadas pelo “soez Presidente do F. C. Porto”.
Uma longa vaia à Dom Quixote!

Filipe Taveira

1 comments:

Anonymous Anónimo said...

Li o texto e gostei.

Sobre o livro em debate, diria que é ridícula a forma como se impingem páginas de absoluta mediocridade de vida, em troca de revelações criminais que desconheço a razão de não terem sido canalizadas para justiça ao invés de para a sociedade.

A editora, movida pelos cifrões, soube pactuar com esse ataque absurdo apenas com vista no volume de negócios.
É caso para indager sobre o paradeiro da ética editorial...

15/12/06 10:37 da tarde  

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