06 dezembro 2006

Destino

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"Encontro em Samarcanda"
(Recriação de uma antiga lenda Oriental)

Um dia o Sultão de um Reino na Ásia Central recebeu o seu Grão-Vizir que espavorido lhe contou que um vulto sinistro, embuçado em vestes completamente negras, o tinha espiado na cidade. Pelo ar misterioso e sombrio, declarava ele ao Sultão, seu Senhor, pressagiava com grande convicção e temor que aquela figura que avistara era a personificação da morte. Era a morte que o espreitava, que o buscava, para em breve o atingir e por isso lhe comunicava que ia fugir imediatamente para Samarcanda. E assim se despediu.

O Sultão contrariado com aquele episódio que atingia o seu estimado Grão-Vizir ordenou aos seus soldados que procurassem um tal figurão que pudesse corresponder à sua descrição e, a bem ou a mal, o trouxessem sem demora à sua presença.
Na verdade ao fim de algumas horas os seus fiéis servidores trouxeram-lhe uma figura de porte altivo e terrífico, todo envolto de negro. Mesmo o semblante era uma sombra escura indistinta debaixo do capuz. Não foi difícil o Sultão entender o terror do seu Grão-Vizir, ainda para mais sentindo-se acossado por aquela tão medonha e sugestiva visão, de tal maneira que o levara a escapulir-se à pressa para a distante Samarcanda!...

O Sultão depois de algum tempo a observar a personagem que o Grão-Vizir interpretara como sendo a morte interpelou-a com firmeza:
– Quem és tu que ousas trajar-te assim e amedrontares as pessoas?!
Ao que o estranho respondeu:
– Que a minha identidade não te ocupe… Quanto a meter medo não sei a que te referes.
– Lembro-te que estás no Reino que é o meu. Mas desde já te digo que a razão da tua presença aqui tem a ver exactamente com o facto de andares a aterrorizar as pessoas, como foi o caso do meu Grão-Vizir. O que lhe fizeste? Que sortilégio lhe lançaste?
Do alto da sua possante estatura a voz grave do desconhecido explicou calmamente:
– A única atitude que tomei perante o teu ilustre Grão-Vizir foi apenas a de uma enorme surpresa ao vê-lo na cidade uma vez que eu tenho hoje à noite um encontro com ele em Samarcanda.


Alice T.
(a partir de uma lenda conhecida)

3 comments:

Anonymous Anónimo said...

.Impressionada.
Lembra-me a estória que o meu pai contava ,era eu criança:
Um dia alguém disse a um homem que no dia seguinte iria morrer.Apavorado e desafiando o destino resolveu nesse dia não sair de casa.Nem sequer da cama iria sair!
No dia seguinte sucedeu o que mais tarde ou mais cedo acabaria por acontecer.Mas não foi tarde ,nem foi cedo.Foi naquele preciso dia.Uma das traves do tecto envelhecido cedeu e encontrou o homem na cama.
Lembro-me de ter o pensamento de horror,angustia e estupidez pela atitude do homem.Porque é que ele foi acreditar...?!

Hoje não sei se creio no destino.Creio apenas que é preciso ter cuidado com aquilo em que se acredita e com aquilo que se deseja no intimo (pois essa crença pode vir do inconsciente).
É que pode acontecer a coincidencia!!

É curioso analisar a "Sincronicidade" de carl gustav jung.As coincindencias.A teoria quântica também.

É curioso pensarmos.
É curioso a necessidade de não termos medo,de não fugirmos.
Sobretudo de nós próprios.

*

7/12/06 3:12 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Belo conto.
Traçaria um paralelo entre o cerne da história e a tendência um pouco estranha que existe de fugir radicalmente de um mal para o qual se esteja sugestionado, sem perceber não ser possivel fugir de todos os males nem de os evitar se eles tiverem de ocorrer.

É uma espécie de refúgio placebo.

9/12/06 1:45 da manhã  
Blogger Arqui said...

Belo conto, porque já não se redigem histórias assim? Parecem conter o essencial de uma vida, nas suas poucas linhas escritas

11/12/06 1:08 da manhã  

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