03 setembro 2006

Uma ética essencial

A ética, talvez mais subtilmente que as outras ciências, tem a ver sobretudo com o tempo. Medido aqui em gerações sobre gerações, comportamentos sobrepostos em comportamentos, juízos evolucionando para outros juízos…
As noções normativas de bem e de mal correspondem mais a indicadores de uma determinada fase da história do que ao enunciado de conceitos universais da humanidade. Mesmo em cada época não há coincidência de valores, podendo-se distinguir facilmente grupos, sociedades, países, regiões, continentes e por aí fora, conforme o alcance da classificação que se desejar efectuar.
Seria trabalho árduo mas não infrutífero encontrar um padrão comum a todos os povos, uma vez que teoricamente, por simpatia com as teorias evolucionistas, é muito provável que exista. Ainda que fossem muito reduzidas as sobreposições existiria uma ética essencial característica de um determinado momento.
Essa procura, com a sofisticação científica actual, não é de todo irrealista. As amostras experimentais seriam dimensionadas e seleccionadas de acordo com as possibilidades…
Nessa imensa base de dados muito se poderia deduzir. Poder-se-ia determinar com certeza a quantas velocidades psicológicas o planeta viaja e, quem sabe, a razão subliminar de certas desinteligências graves, já que à superfície o bom e o mau à luz das grandes crenças e moralidades vigentes são muito semelhantes. Talvez se pudesse encontrar uma via científica qualquer, uma vez que todas as outras se revelaram inábeis!
Ou será que ainda há quem acredite que o Homem continua até agora a lutar apenas pela posse do Sexo oposto e do território?

Cátia F.

13 comments:

Anonymous Anónimo said...

Tenho a ideia, talvez errada, que as velocidades não são constantes. A evolução parece-me agora mais acelerada do que outrora. A comparação não é de todo fácil, pois a lenga-lenga do "no tempo não era assim" talvez tenha sido uma constante ao longo da história, no entanto, as diferenças que se podem constactar de uma geração para a outra sejam, agora, mais acentudas e numerosas. A tecnologia, o ensino abrangente, continuado e para todos, a informação na hora, têm certamente uma contribuição importante para essa mudança.

3/9/06 3:58 da tarde  
Blogger antimater said...

Cara Gisela:
Sim, mas "nós" também somos mais acelerados!
Será que as circunvoluções cerebrais e outras não se alteraram?
Penso que está tudo ligado e há diferenças nítidas mas não há qualquer desfasamento. Cada fase é uma fase...

3/9/06 10:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

«Sim, mas "nós" também somos mais acelerados!Será que as circunvoluções cerebrais e outras não se alteraram?»

Biologicamente não pode haver evolução em duas gerações. E se reparares, relativamente ao estilo de vida, aos conhecimentos e ao grau de escolaridade, à moral e aos costumes, o fosso entre os nossos pais e nós parece-me maior do que o fosso entre os meus avós e os meus pais. Mas lá está, esta é uma análise puramente empirica de advém da minha experiência. Outros terão outra visão.

5/9/06 1:43 da manhã  
Blogger antimater said...

Gisela,
A evolução é precisamente a transformação contínua das espécies. Embora não sejam verficáveis as alterações, como referes, elas estão lá. A evolução não dá muitos saltos (só alguns) antes muda lentamente, constantemente...
O fosso das gerações de que falas afigura-se-me muito apoiado na tua experência pessoal, como dizes.
Acho que cada vez as diferenças serão menores, cada vez a intrução se faz de forma mais rápida e os progenitores estarão também cada vez mais preparados.
Não se trata de uma visão optimista da minha parte porque não quer isto dizer que os perigos sociais também não sejam crescentes e diferenciados. É apenas uma visão "aritmética"

5/9/06 6:15 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Independentemente da minha experiência pessoal, e se atentarmos p.ex na moda, na evolução da ciência (genética e médica p.ex) e na tecnologia, não te parece que nos últimos 30 anos se fizeram mais progressos que nos décadas anteriores? Os séculos nestas áreas passaram a anos e até a meses.
Dizias que « A evolução não dá muitos saltos (só alguns)», pois eu creio precisamente que estamos perante um salto. A evolução está acelerada porque o tempo está mais acelerado. Quando tu sabes as noticias na hora (e inclusivé se escreve a História no mesmo ano), acedes a informação em segundos, viajas em minutos, comunicas com o mundo em simultâneo em trabalho de equipa, a evolução obrigatoriamente acelera e como nunca acelerou.

«Acho que cada vez as diferenças serão menores». Talvez. Não discordo. Mas a comparação que faço não é com o futuro mas com o passado.

A ideia da evolução lenta e progressiva poderá aplicar-se à anatomia, por exempo, mas outras evoluções se processam agora a passo bem mais largo.

6/9/06 12:58 da tarde  
Blogger antimater said...

Gisela,
Concordo com tudo o que dizes dentro de uma determinada pespectiva...
Vejamos. Demos um salto no desconhecido e imaginemos os viventes humanóides daqui a 200 anos a dizerem entre si: «não te parece que nos últimos 30 anos se fizeram mais progressos que nas décadas anteriores?»
Achas que passei a ideia?
Além disso posso-te mostrar textos onde se vê que as pessoas hà 100 anos atrás diziam precisamente o mesmo!
Já sobre o tempo estar ou não mais acelerado... Eu diria que a velocidade de informação/comunicaçao sim está cada vez mais rápida. Uma vez que quando começamos a falar do "tempo" as coisas se complicam!
Mas não te esqueças o que os nossos antepassados disseram da electricidade, do comboio,do telégrafo do telefone, do avião, do rádio, da televisão, enfim...
Todavia também acho, como tu, que o "movimento" não será uniforme mas acelerado (de equação desconhecida)!

Cátia F.

6/9/06 7:59 da tarde  
Blogger airesff said...

Eu costumo dizer que, hoje em dia, o mundo gira demasiado rápido para a cabeça de muitas pessoas ;)

9/9/06 1:10 da tarde  
Blogger airesff said...

Eu proponho que a aceleração (da evolução) é constante no intervalo de tempo em que não há evolução genética significativa (~10 gerações?). ;)

9/9/06 1:12 da tarde  
Blogger antimater said...

Random,
Obrigado pelos comentários.

O que se entende por evolução genética "significativa"?

10/9/06 4:57 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

ó random, pá, não gostei dessa...

11/9/06 12:45 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

«Eu proponho que a aceleração (da evolução) é constante no intervalo de tempo em que não há evolução genética significativa (~10 gerações?).»
Porquê? Em que te baseias para a tua proposta?

11/9/06 12:54 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Cátia
Este meu desabafo não pretende ser cientifico ou baseado e tem muitas distorções de percepção da História da minha parte. O meu interesse éreflectir acerca da percepção histórica de cada individuo. Desculpa insistir, mas dou-te outro exemplo, na area das tecnologias: noutros tempos, desde que que era feita uma descoberta até ela inovar passavam umas valentes dezenas de anos. Actualmente, desde de que a minha mãe nasceu, ela já assistiu à evolução da televisão de preto e branco para cores, para LCD/TFT, do gira-discos, para o leitor de cassetes, para o leitor de cds, para os minidiscs, para mp3, para ipod... de computadores que ocupam salas, para computadores de mão, etc, etc e se eu não insistisse já perdia o comboio dos telemoveis e da internet. A minha noção é, históricamente, estamos a viver um salto, semelhante ao salto do Renascimento, ao dos Descobrimentos... referiste o comboio, durante quantos anos/seculo o comboio foi a vapor?O telefone existe desde 1875, quando o viste a mudar de figura? A televisão e a rádio constuiram já o impulso do salto que agora vivemos.

11/9/06 1:34 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Bem, quando falei no Renascimento, não pretendia comparar o conteúdo, apenas a revolução ou salto. Seria um assassinato histórico se fizesse uma comparação tão grosseira. Concordo plenamente contigo quando falas da estagnação do pensamento, a todos os níveis, inclusivé politico. E a regressão em alguns sectores é um facto. Já deves ter reparado nos debates sobre Criacionismo (no Destreza das Duvidas, p.ex), e o aumento de adeptos do mesmo. É inquietante. Sobretudo depois de sabermos que essa regressão é possivel e tem precedentes. Outrora os paises árabes eram bastante evoluidos em termos de instrução e conhecimentos.(Basta ver a história do Afganistão antes e depois dos Talibãs tomarem o poder.)
Não podemos exigir tanto ao Homem. Agora o salto tecnologico e medico(?), amanha o pensamento e as ciencias humanas. Só espero que o amanhã seja rápido. (o desejo é o reflexo da época)

11/9/06 2:37 da manhã  

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