26 setembro 2006

Organização social



Há algum tempo assisti a uma entrevista na televisão que nunca vou esquecer… Sim, de vez em quando ainda se passam grandes momentos em frente ao pequeno ecrã, pena é que, como neste caso, seja a horas impraticáveis...
Seja como for tive a sorte de assistir a uma longa entrevista com a famosa inglesa que viveu durante anos na selva da Tanzânia, a antropóloga Jane Goodall, onde estudou minuciosamente a forma de viver dos chimpanzés.

Para além da deliciosa forma de expor e do relato de uma série de curiosidades acerca da “organização social” dos símios e das manifestações de afecto entre eles, o que mais me impressionou foi a explicação e exemplificação que a cientista fez sobre a linguagem dos chimpanzés. Sobre as cambiantes sonoras que eles utilizam e a correspondência com os respectivos conceitos. A determinada altura Jane Goodall começou a ilustrar diversas significações, imitando exactamente o som que eles produzem… O que noutro contexto e com outra pessoa poderia ser um espectáculo grotesco registava-se ali como um acto extraordinário sim, mas essencial e empolgante. A naturalidade e entrega total da antropóloga eram comoventes! Só mesmo alguém realmente conhecedor e apaixonado pelo assunto podia oferecer uma lição tão original naqueles moldes.

A sensação que tenho é que esse apontamento marcou indelevelmente a minha memória. Como que a reavivar o meu interesse sobre o assunto da evolução dos seres... É claro que ela só podia chegar ao entendimento a que chegou sobre os grupos de chimpanzés, a maneira como estruturam o seu habitat sociopolítico e comportamental, através do domínio da sua linguagem gutural e gestual! Mais do que ter comprovado, entre muitas outras coisas, a utilização de ferramentas, a capacidade de aprendizagem, a manifestação de sentimentos, Jane Goodall consegue utilizar a linguagem dos chimpanzés como se fosse um deles…

O contributo que a sua pertinácia tem dado para a antropologia é inestimável.
A entrevista despertou todavia o meu desconforto recorrente de que chegados à nossa “tão avançada” época desconhecemos ainda os animais – quando muitos pretendem não ter muitas dúvidas sobre o Homem.

Jane Goodall afirma que os chimpanzés rejubilam de alegria, morrem de desgosto e têm consciência de si próprios…


Cátia Farias

4 comments:

Anonymous Anónimo said...

Já quis enveredar pela psicologia animal (no secundário), por admirar o trabalho dela. quando eu era criança passava horas, às vezes dias a observar o comportamento das formigas nos meus pátios. Chorava imenso quando o meu primo decidia implicar comigo e matar algumas. Substituia as bonecas por isso com todo o prazer, no tempo em que a televisão não era usada como roca para crianças.

26/9/06 1:17 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Acho que o nosso Ego cega-nos.
Ainda estamos muito "verdes".
Mas já se vislumbra algo no horizonte.Só uma minoria se apercebe,é certo,mas penso que será por aí.
E espero sinceramente que o meu ego não me esteja a pregar uma partida ao fazer-me pensar que faço parte dessa minoria.

1/10/06 11:21 da tarde  
Blogger antimater said...

Ibis2,
Perspicaz e idealista!
Duas características difíceis de conciliar...

2/10/06 5:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ahh pois é!!
E agora como é que se gere isto??
Nem queira saber.......

2/10/06 11:54 da tarde  

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