06 setembro 2006

O Irão


Agora a esta distância, bem vistas as coisas, o azar do Iraque foi mesmo não ter as tais armas de destruição maciça, a esta hora porventura ainda enterradas em lugar incerto depois de “oficialmente” fotografadas para testemunho de muitos yes-men posteriormente ridicularizados e para divertimento pouco recomendável das eminências pardas…
A azáfama do Irão para garantir os seus trunfos não é senão consequência do seu desejo de progredir economicamente e conseguir um nível de desenvolvimento de que se possa orgulhar, o que, de uma forma ou de outra, é o desejo de qualquer país.
Não é preciso ser muçulmano nem persa para dar uma olhada pelo Médio Oriente e ver quem é que se está a safar e quem é que se está a enterrar todos os dias. O acesso a todos os mercados, o desempenho económico cada vez melhor assim como o bom relacionamento nos negócios internacionais da Índia e nos últimos anos a subida dos níveis das taxas de crescimento no Paquistão (atingindo já valores na ordem dos 6% do PIB) revelam que não há nada como ter “argumentos de peso”! Como sabemos, tanto o Paquistão coma a Índia tem “armas de dissuasão maciça” ou seja, para abreviar, ambos possuem o engenho nuclear, o terror da bomba… Ninguém acredita que aquelas almas ambicionem desatar a matar toda a gente e aniquilar regiões inteiras. Contudo pelo que vemos a intimidação funciona, pois é disso que se trata. Aliás, para as grandes desavenças, cobiças e outros quejandos, as alternativas não poderiam ser muitas, sendo provavel que acabassem a reboque de uma mania qualquer, fosse ela de grandezas ou de maldades…
Portanto, à parte todas as simpatias ou antipatias, só critica o Irão quem não é país, ou quem é país mas não se importa de não ser independente ou gosta de prestar vassalagem. A questão é que talvez o Irão já não tenha o tempo de que precisa!


Vasco Sousa

9 comments:

Blogger Nuno Guronsan said...

Não me digas que o Ahmenajjadblabla dorme com o Samuelson ou o Adam Smith por baixo da almofada, em vez do Alcorão? Isso é que era uma verdadeira conspiração...

Obrigado pela visita, que aqui retribuo!

7/9/06 12:11 da manhã  
Blogger JG said...

Já li muitas ideias absurdas nos meus dias, até já escrevi muita coisa absurda, mas dizer que possuir armas nucleares traz riqueza a um pais è confundir o queijo com a ovelha.

A estas horas tardias lembro-me de meia-duzia de preposições que poderiam ser usadas para construir uma contra argumentação:

Não è ter armas nucleares que torna um país rico, è sim preciso que um país possua grandes recursos económicos para poder construir e manter tais armas.

Vários dos grandes monstros da economia mundial nunca possuíram armas nucleares, tipo Japão se não contarmos com os milissegundos entre lhe terem atirado as bombas e elas terem explodido... E a Alemanha que "[...] não 'teve' o tempo de que 'precisava'!".

O irão está activamente envolvido em conflitos, Líbano e ex-republicas soviéticas, sendo talvez o pais não ocidental mais empenhado no destabilizar de nações independentes. Sem falar que os 'barbas' de lá não curtem nada os 'barbas' de Israel, outra potência nuclear. Os israelitas já avisaram que vão mandar uns 'postais' antes que possa haver 'troca de correspondência'.

Por muito que eu não goste da guerra nem de autoritarismo tenho que, cinicamente, admitir que gosto que os países da NATO sejam os únicos que podem declarar guerras autoritária e impunemente. Se eu fosse cartaginês certamente não gostaria da paz romana, mas sou lusitano e nós somos cães dos romanos, eles deixam-nos comer os restos. Ave Roma, béu béu.

7/9/06 3:40 da manhã  
Blogger antimater said...

Não se trata de defender a guerra.
Não foi então bem sucedido o post…
A ideia a esclarecer é semelhante à que aguentou o equilíbrio na guerra fria, quer queiramos quer não, foi a escalada ao armamento que segurou muitos países e evitou vários conflitos inclusive no Médio Oriente. Não se trata aqui de concordar ou deixar de concordar com os regimes, apenas de constatar que a máxima era: ou mostras o que vales e tens o arsenal necessário para o ilustrar ou sucumbes e és assimilado.
Tudo isso fez também da América (é preciso não esquecer) o país mais “super-armado”do mundo. Ou pensar-se-á que os EUA vão para conversações em qualquer lado do globo sem terem bem a noção disso e sem usarem o poder que o apetrechamento militar lhes dá. Trata-se do poder. Como é que a Índia conseguiu (não está aqui uma defesa belicista mas um facto) uma abertura total aos mercados de negócios. Como é que se atrofia um país exercendo pressões e sanções económicas? Que tipo de democracia se impôs no Iraque e no Afeganistão? Se o Iraque (quer concordemos ou não com o regime) tivesse capacidade bélica alguém ia lá meter-se com eles!?
Para abreviar a ideia é apelar a um raciocínio de “estratégia militar” global. Ou seja, se todos os países se armarem em ovelhas pacifistas e só houver um ou dois lobos que se estão nas tintas para a pastorícia porque precisam “como do pão para a boca” do mercado global para funcionarem, então na realidade queijo de ovelha nunca mais comeremos meu caro… Veja-se como uma boa parte do mundo está na miséria ou totalmente dependente porque não tem qualquer forma de persuasão. Podemos elaborar uma boa lista enorme. Para o desarmamento ser desarmamento tem que ser global. Digo global, total nível do globo inteiro. Não é só para alguns… E ESTA É QUE É A LUTA!
Se assim não for como vamos saber que defendemos causas mais justas e menos justas?
Quanto à NATO, não sei muito bem o que isso é! Até quanto as Nações Unidas às vezes tenho um bocado de dificuldades em saber exactamente o que é! Porque vamos sempre desembocar no mesmo: quem tem “bons argumentos” tem “voto na matéria” quem não tem engole os sapos, que é o que faz Portugal quando é preciso (Lajes, Figo Maduro, e o mesmo que não se diz aqui…).
Porque o resto é ter filtros de ideologia, de clube, de partido, etc., desses que se colocam para termos um enquadramento ao nosso gosto.
Termino fazendo-lhe uma pergunta simples de um cinéfilo que serve também de argumento (não de leitura imediata): «Quantos filmes europeus vê por ano (franceses, italianos, alemães, …,…,)?? Será que esse países se viraram só para o badmington?!
Ora, meu caro, o queijo e a ovelha já não são o que eram e as nossas análises sofrem do mesmo que o país. São bonitinhas, pequeninas e tacanhas.
Obrigado pelo comentário.
Espero a reacção…

7/9/06 5:09 da manhã  
Blogger JG said...

Temos aqui assunto para boa conversa. Creio que se trata acima de tudo uma diferença ideológica que nos separa pois em termos objectivos a ideia de uma paz armada è bem defensável.

No entanto só posso estar contra tal paz armada.
Vendo bem o numero de conflitos durante e pós guerra-fria não è muito diferente o que pode contradizer ambos os nossos discursos.

È falso afirmar que a guerra-fria trouxe paz. A guerra da Coreia è fruto da guerra-fria e hoje ainda dor de cabeça para os vizinhos. O Japão já declarou que atacará a Coreia do norte se a sua corrida às armas continuar. O Vietname è fruto da guerra-fria, estranhamente o único dos exemplos que já pacificou. o irão de hoje è de certa forma um produto da guerra-fria ja que a teocracia foi uma reacção ao governo fantoche lá instalado. O mesmo se pode dizer do Afeganistão em que americanos armaram os talibã só para estragar a vda aos sovieticos que estavam calmamente a invadir os pais. Nem falemos das toneladas de armas enviadas para africa pelos franceses, de tropas cubanas em Angola, de golpes de estado vindos do nada, de remessas do KGB nem de guerrilheiros armados de RPG nem de crianças com AK47 ...e desinteria. (quando uma arma de assalto pagava tratamento para essa disenteria e ainda alimentação para vários anos)

Alias hoje praticamente todos os focos de insegurança são produtos de medidas desesperadas tomadas durante a guerra-fria.

Uma arma nuclear não è algo que se pode armazenar na cave, è um engenho mantido no limiar da massa critica levar a uma reacção em cadeia, sendo assim quase tão difícil de conservar como è difícil de construir. Hoje a comunidade internacional está a apoiar financeiramente a desactivação do velho arsenal nuclear soviético. È isso que queremos? Queremos voltar a um tempo em que todos os recursos se dedicam à construção de armamento sem olhar ao facto que se vai ter que lidar com a manutenção dessas armas?

Concordo que ódio aos americanos seja saudável e politicamente correcto. Mas existem melhores formas de exercitar essa linda arte do que apelar à militarização global. Afinal è mesmo devido à militarização global que odiamos os estados unidos... ou está o meu amigo de novo a confundir o queijo com a ovelha?

8/9/06 12:37 da manhã  
Blogger antimater said...

Sobre a guerra fria:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Fria

A guerra fria não implicaria a paz mas sim sobretudo uma convivência equipotencial entre os grandes antagonistas…
Acho que continuo a não conseguir fazer passar a mensagem.
Não existe daqui qualquer apelo ao armamento, nem de forma nenhuma um qualquer tipo de ódio seja a quem for. O ódio faz terrivelmente mal ao organismo, sobretudo ao coração…

O que se tenta explicar é a perspectiva dos países que não tendo os meios de dissuasão necessários são facilmente controlados, seja por quem for que tenha os meios e o poder, sobretudo se têm recursos naturais apetecíveis.
Tinha tentado passar a ideia que para exigir (entre países) que não se possua armamento nuclear é preciso que não se faça aprovisionamento dele também (a história dos lobos) e falei até de desarmamento total, porque, aí sim, tomei posição inequívoca! Que tipo de moral se vai adoptar para escolher os países que podem ter ou não ter a bomba atómica ou quaisquer outros tipos de armas não convencionais?

Dos países que conheço (mal) o que mais me deslumbrou foi os Estados Unidos. Como poderia odiar esse povo, fonte de tanta aprendizagem e de incontáveis dádivas ao mundo?! Aliás se pudesse escolher livremente neste momento um sítio para viver talvez escolhesse mesmo New York! Se o meu caro Krava fosse julgar um país pelas políticas dos seus dirigentes…
Na América, me parece, em termos de líderes, tem havido bom e mau, se assim se pode dizer, porque cada um faz o jogo que pensa ser o melhor, na conjuntura que lhe calha.
Isto não nos impede de ter uma ideia global das coisas, não personalizada, que atrapalha muito, mas plausível, que tenha probabilidades de ser verdadeira! Não será bem um jogo de futebol, talvez mais para o xadrez… ou até mesmo o dominó… que são coisas que não empolgam tanto as massas…

Vasco S.

8/9/06 1:32 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Neste tema do Irão e seu armamento nuclear vislumbro duas questões distintas: Irão, por um lado, e armamento nuclear, por outro. No que diz respeito ao Irão, trata-se de um regime teocrático, difícil de aceitar sob o ponto de vista de um democrata ocidental. A isto, junte-se-lhe o facto de ser radical e o cenário piora para o lado deles.

Quanto ao armamento nuclear, não tenho dúvida de que todos os países têm o direito de o possuir, incluindo o Irão. Porque não é o regime do país que está em causa, mas a sua soberania. Pelo meu lado, preferia que Portugal se "actualizasse" e dispusesse da bomba atómica, por muito democrata-radical que eu seja. Se a China tem a bomba, a Índia também, a Rússia, os States, o Brasil, o Paquistão, Israel, França, Reino Unido, etc, etc, porque não o Irão também? E, já agora, porque não Portugal?

Parece-me que ficávamos todos em maior pé de igualdade neste "admirável mundo novo". E não estou a brincar: acredito nisto! Um abraço

8/9/06 10:41 da manhã  
Blogger JG said...

Já agora porquê ficar apenas pelo direito das nações possuir armas nucleares?

Toca a distribuir canhões de antimatéria por todos os cidadãos! Eu pelo menos agradecia. Ficava logo resolvido o problema daqueles pardais que não me deixam dormir de manhã, e se algum protector dos animais viesse se intrometer era justo porque ele também traria o seu canhão e poderíamos resolver a coisa à antiga.

Que è a vida afinal senão um grande filme de faroeste...

Admirável mundo novo onde podemos reduzir os nossos inimigos a matéria primal com o carregar de um botão!

8/9/06 1:51 da tarde  
Blogger antimater said...

JB, Krava
Agradeço os comentários.

A minha ideia no post era no sentido oposto:
- O ponto de partida: «Os países vêm-se na necessidade de possuir a bomba».
- Percurso: «Determinar porquê»
- Ponto de chegada: « Interessante seria eliminar as causas que determinam a necessidade»

V. Sousa

8/9/06 7:09 da tarde  
Blogger airesff said...

Concordo com o essencial do post, mas VS concordará que os discursos anti-judaicos altamente inflamados do presidente do Irão fazem com que a comunidade internacional tema o uso que possam fazer de uma bomba.

9/9/06 1:06 da tarde  

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