28 setembro 2006

Globalização



A palavra globalização tem tantos sentidos que faz lembrar aquele exercício em que se repete em voz alta e até à exaustão um qualquer vocábulo, passando pelas sensações desde o absurdo até ao ridículo, mas insistindo pacientemente extrairemos uma grande lição: a partir de certa altura o termo deixa de ter qualquer sentido! Perde o seu significado e passa a ser um som repetido, sem qualquer valor semiótico.

Já ouvi usar essa palavra – globalização – em conceitos de ideias absolutamente distintas. Para além da constatação da importância da linguagem e do rigor que deve possuir, fica-nos uma certa desolação por não sabermos exactamente do que se fala, quando não há uma integração que ilustre o vocábulo quanto baste permitindo uma interpretação satisfatória.
Numa abordagem linguística mais ou menos rígida quando falamos de globalização devemos significar uma área da economia que se debruça sobre o funcionamento dos mercados mundiais e suas interdependências em termos de produção transporte e comercialização dos produtos. Trata-se portanto da visão da economia a uma escala planetária e que por isso introduz tipos de análise específicos.

A confusão começa quando se aplica, o que não é incorrecto do ponto de vista da língua portuguesa, a palavra em contextos mais latos com ligação aos assuntos políticos, tecnológicos e culturais de uma forma geral. Talvez aqui a palavra mundialização fosse mais disciplinadora. A questão é que mundialização ou globalização também não ajudam muito no que se pretende expressar por corresponderem a um sem número de visões sociopolíticas com as mais diversas e quantas vezes antagónicas ideologias existentes e emergentes.

De tal maneira é a dispersão que quando alguém diz a propósito disto e daquilo: «Pois… É a globalização!», o que é muito frequente nos tempos que correm, mais do que com a maior parte das palavras, temos que saber com quem estamos a falar, as características do pensamento de quem profere a expressão, para sabermos o que a pessoa realmente quer dizer…

Ou o léxico se dinamiza ou vamos ter muitos equívocos e contratempos. Globalização é surgimento de mercados e destruição de mercados, liberalismo e açambarcamento, saúde e epidemias, união e competição, interacção e individualismo, é desnacionalização e nacionalismo, universalidade e sectarismo, independência e anexação e por aí fora. Portanto, evidentemente, de acordo com a natureza, sobressai que para todas as acções existem reacções. E quanto maior é a acção mais violenta será a reacção…
O melhor é doravante e antes de tudo assentarmos sobre os signos!


Alice T.

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