16 setembro 2006

Abracemos as causas

Sempre tivemos a tendência de pensar que a “verdade” está do nosso lado. A nossa cidade é a melhor. O nosso clube é que deve ganhar. A nossa forma de ver é que está certa. O nosso partido tem as respostas mais adequadas. A nossa religião é definitivamente a verdadeira.
Os grupos perduram por uma coesão que se forma em torno de interesses idênticos, da comunhão das mesmas necessidades, da identificação atractiva de gostos e simpatias comuns.
A própria harmonia social depende de um ideário que quanto mais partilhado for mais espectável será o sucesso.
O Homem empresta à “tribo” a sua adesão, a sua participação e a “tribo” recebe-o e “educa-o” dentro das suas normas, crenças, rituais e fetiches. O prazer de pertencer ao grupo, ilusão de não estar só, fornece estabilidade e sensação de bem-estar ao ser psicossocial que é o animal humano. O conforto psíquico de pertença ao colectivo faz com que o individual se fortaleça pela estima que fazer parte de uma comprovada realidade lhe faculta. Com o tempo essa realidade deixa de ser posta em causa, pode até ser inútil ou perniciosa, porém o raciocínio trivial perde a capacidade de a julgar…
Se tudo isso é natural, não deveremos todavia sair da razão e sim estar cientes que nos agarramos com afinco ao incontestável efémero numa vertigem de autenticidade precária, tanto mais que sabemos de antemão que todos esses conceitos que abraçamos perecerão infalível e implacavelmente. A “tribo”, o grupo, a causa, o clube, a crença, darão lugar a outros tantos enganos, noutras épocas, noutros contextos sociais. Até nem nós seremos os mesmos.
Sim, abracemos as causas, mas devagar… Pensando talvez que o que queremos mesmo é vê-las evoluir e que, sendo estas, poderiam muito bem ser outras!...


Vasco S.

2 comments:

Blogger Nuno Guronsan said...

A tolerância devia estar mais disseminada por todas as "causas" que mencionas. Só porque temos mais afinidade com algo, não devemos pensar que os outros não merecem o mesmo espaço ou, pior ainda, que não merecem os mesmos direitos que a nossa "causa". O respeito por outrém começa dentro da nossa própria casa e, porventura, temos mesmo é de aprender por nossa própria conta e risco e mesmo passar por situações de "exclusão" da causa dominante para percebermos melhor o conceito de tolerância. Escrevo pela minha própria experiência.

Palavras importantes. Um abraço.

16/9/06 4:41 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Identifico-me plenamente ,e em especial,com o último parágrafo.

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16/9/06 5:23 da tarde  

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