Abracemos as causas
Sempre tivemos a tendência de pensar que a “verdade” está do nosso lado. A nossa cidade é a melhor. O nosso clube é que deve ganhar. A nossa forma de ver é que está certa. O nosso partido tem as respostas mais adequadas. A nossa religião é definitivamente a verdadeira.
Os grupos perduram por uma coesão que se forma em torno de interesses idênticos, da comunhão das mesmas necessidades, da identificação atractiva de gostos e simpatias comuns.
A própria harmonia social depende de um ideário que quanto mais partilhado for mais espectável será o sucesso. O Homem empresta à “tribo” a sua adesão, a sua participação e a “tribo” recebe-o e “educa-o” dentro das suas normas, crenças, rituais e fetiches. O prazer de pertencer ao grupo, ilusão de não estar só, fornece estabilidade e sensação de bem-estar ao ser psicossocial que é o animal humano. O conforto psíquico de pertença ao colectivo faz com que o individual se fortaleça pela estima que fazer parte de uma comprovada realidade lhe faculta. Com o tempo essa realidade deixa de ser posta em causa, pode até ser inútil ou perniciosa, porém o raciocínio trivial perde a capacidade de a julgar…
Se tudo isso é natural, não deveremos todavia sair da razão e sim estar cientes que nos agarramos com afinco ao incontestável efémero numa vertigem de autenticidade precária, tanto mais que sabemos de antemão que todos esses conceitos que abraçamos perecerão infalível e implacavelmente. A “tribo”, o grupo, a causa, o clube, a crença, darão lugar a outros tantos enganos, noutras épocas, noutros contextos sociais. Até nem nós seremos os mesmos.
Sim, abracemos as causas, mas devagar… Pensando talvez que o que queremos mesmo é vê-las evoluir e que, sendo estas, poderiam muito bem ser outras!...
Vasco S.
Os grupos perduram por uma coesão que se forma em torno de interesses idênticos, da comunhão das mesmas necessidades, da identificação atractiva de gostos e simpatias comuns.
A própria harmonia social depende de um ideário que quanto mais partilhado for mais espectável será o sucesso. O Homem empresta à “tribo” a sua adesão, a sua participação e a “tribo” recebe-o e “educa-o” dentro das suas normas, crenças, rituais e fetiches. O prazer de pertencer ao grupo, ilusão de não estar só, fornece estabilidade e sensação de bem-estar ao ser psicossocial que é o animal humano. O conforto psíquico de pertença ao colectivo faz com que o individual se fortaleça pela estima que fazer parte de uma comprovada realidade lhe faculta. Com o tempo essa realidade deixa de ser posta em causa, pode até ser inútil ou perniciosa, porém o raciocínio trivial perde a capacidade de a julgar…
Se tudo isso é natural, não deveremos todavia sair da razão e sim estar cientes que nos agarramos com afinco ao incontestável efémero numa vertigem de autenticidade precária, tanto mais que sabemos de antemão que todos esses conceitos que abraçamos perecerão infalível e implacavelmente. A “tribo”, o grupo, a causa, o clube, a crença, darão lugar a outros tantos enganos, noutras épocas, noutros contextos sociais. Até nem nós seremos os mesmos.
Sim, abracemos as causas, mas devagar… Pensando talvez que o que queremos mesmo é vê-las evoluir e que, sendo estas, poderiam muito bem ser outras!...
Vasco S.
2 comments:
A tolerância devia estar mais disseminada por todas as "causas" que mencionas. Só porque temos mais afinidade com algo, não devemos pensar que os outros não merecem o mesmo espaço ou, pior ainda, que não merecem os mesmos direitos que a nossa "causa". O respeito por outrém começa dentro da nossa própria casa e, porventura, temos mesmo é de aprender por nossa própria conta e risco e mesmo passar por situações de "exclusão" da causa dominante para percebermos melhor o conceito de tolerância. Escrevo pela minha própria experiência.
Palavras importantes. Um abraço.
Identifico-me plenamente ,e em especial,com o último parágrafo.
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