31 dezembro 2006

Um site por semana.


O sítio da semana
[52]

29 dezembro 2006

Mil e uma vezes

"Tempo e espaço são formas com as quais pensamos
e não condições nas quais vivemos."
Albert Einstein (1879-1955)



Mil e uma vezes os nossos passos atravessarão essa ponde antiga e muda. Mil e uma vezes olharemos as águas, lá em baixo, correndo imperturbáveis. E os anos passarão como se fossem reais e os nossos esqueletos, imperceptivelmente, crescerão jovens e de velhos minguarão, sempre, em silêncio, cumprindo os ininterruptos calendários como se estes fossem reais. Mil e uma vezes os nossos passos, automáticos, se encaminharão para o outro lado da ponte através das brumas matutinas que, como sempre, se desvanecerão. E os amanhãs despontarão na certeza das nossas consciências como se fossem reais. Mil e uma vezes pensaremos alcançar a margem e sempre haverá mais passos para dar. A ponte, pateticamente real, sacode-se agora ao vento frio de Dezembro.

Alice T.

23 dezembro 2006

A crença num Absoluto


Se de facto a História tem um propósito como pretendia Hegel (1770-1831), o que não é mais difícil de aceitar do que qualquer outro tipo de concepção do percurso humano, então na verdade há que encontrar esse fio condutor que nos remirá deste enorme labirinto onde estamos encerrados. Essa excelente Ariadne seria então a História.
Mesmo que o trabalho se apresente imenso, a perspectiva é sedutora! A questão é que não existe História de todo. O que temos, quando nos debruçamos sobre os acontecimentos passados, são representações e interpretações de autores, a maior parte dos quais nada sabemos sobre a sua honestidade como relatores históricos. Claro que temos documentos e património físicos objectivos, mas ainda aí a sua decifração não pode ser senão subjectiva e analisada à luz dos estereótipos da nossa época. Não, não se trata aqui de preciosismo, mas o pormenor faria toda a diferença já que partimos do propósito que a História contem, ou não…
Se a humanidade a determinada altura pudesse, de certa forma, desvendar essa unidade, esse “continuum” lógico e viesse portanto a ter consciência do seu papel de forma científica, através da História, se isso fosse realmente possível, com certeza que a maior parte dos mitos desapareceriam… Entretanto, e como esse ideal não passa disso mesmo, da crença num Absoluto que tudo explica e tudo abrange, vamos comemorando, sorridentes, os nossos arquétipos, uns com mais benevolência que outros… mas todos, todos, neles mergulhados.

Sendo assim e assim sendo: Umas boas festas “pela memória dos nossos arquétipos”…


Cátia Farias

22 dezembro 2006

Signos X

19 dezembro 2006

De quem se fala!


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Avulsas, antigas, mas
ainda muito frescas...
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Outubro 2002
«O futebol é um mundo de branqueamento de dinheiros sujos com promiscuidades políticas que não se sabe onde começam e onde acabam e que são altamente nocivas para as instituições democráticas», Maria José Morgado …©



Outubro 2002
Segundo deputados do PSD e do CDS-PP contactados pela agência Lusa, a procuradora Geral adjunta não conseguiu justificar os motivos por que os ministros da Justiça e da Defesa, respectivamente Celeste Cardona e Paulo Portas, tinham medo que continuasse a exercer funções de responsável pelo combate ao crime económico na PJ. …©


Novembro 2002
A ex-responsável pelo departamento de combate à criminalidade económica da PJ Maria José Morgado manifestou esta terça-feira a sua satisfação pela operação desenvolvida pela Judiciária que culminou na detenção de cerca de 40 elementos da GNR. A magistrada não deixou, no entanto de considerar uma «ironia do destino» a operação da PJ realizar-se no mesmo dia em que é ouvida no Parlamento. …©


Julho 2004
A ministra de Estado e das Finanças, Manuela Ferreira Leite, vai assumir interinamente as funções de primeiro-ministro, com a demissão anunciada de Durão Barroso. …©


Pesquisado por:
Vasco Sousa

16 dezembro 2006

Um site por semana


O sítio da semana
[51]

15 dezembro 2006

Uma longa vaia

O nosso mundo é sempre o mais importante uma vez que é o nosso. As nossas pequenas e insignificantes misérias são os acontecimentos mais relevantes do globo. Enchem-nos os dias, percorrem-nos os neurónios. E por isso constituem o nosso “nada que é tudo”. O que está longe é ficção maior e o que nos envolve mais de perto, que nos é familiar, que é naturalmente conotado connosco, é toda a nossa realidade.
Por isso todos os meios de comunicação, impressos e audiovisuais, enquanto alargam os nossos horizontes culturais e intelectuais, apresentam-se como um bem maior. Passamos a sentir mais próximas as terras distantes, os assuntos mais universais. Passamos a ter a bela ilusão de nos tornarmos cidadãos do mundo, fazendo parte de uma equação de dimensão planetária.
É claro que, com a profusão de meios de difusão que existe, vamos seleccionando consciente e conscientemente tudo o que se nos afigura credível, digno da nossa confiança. O nosso processo mental vai separando o teor da ganga a grande velocidade, na legitimação dos critérios através dos nossos padrões, no confronto constante com a qualidade e intenções do emissor. Porque há de tudo, desde a honesta e desinteressada informação, a soberba e edificante ficção, o poema eterno, até à mais refinada e repugnante forma de obtenção de lucro imediato, passando como é evidente por todas as posições intermédias.
Como não estamos em época de esbanjamentos, falsas promessas ou enredos pinga-amor, passaremos a ter mais cuidado com aqueles cuja intenção é duvidosa e nada abonatória de quem se arvora em defender a cultura e as letras!...
Miguel Cervantes já terá a esta hora vociferado mil imprecações pelo uso do nome do Quixote em vão, ou para o puro e simples enxovalho público.
Portanto, aqui fica um grande apupo, não para aqueles que de uma forma emotiva e ingénua colocam a vida nos palcos mediáticos, mas para aqueles que, de uma forma fria, calculada e calculista se colocam ao serviço desta “glória”. Falo, claro está, da editora que viabilizou de forma eficiente o lançamento das “mágoas da mártir Carolina" causadas pelo “soez Presidente do F. C. Porto”.
Uma longa vaia à Dom Quixote!

Filipe Taveira

12 dezembro 2006

Choque


Apareço hoje aqui de fugida para, coisa rara, sugerir um programa de televisão. Bem, se a sugestão for tomada como publicidade desde já se esclarece que é totalmente graciosa…
Trata-se de um programa de debates dos mais diversos assuntos da actualidade, com vários protagonistas, dois por cada sessão escolhidos pelas posições intelectuais habitualmente não coincidentes.
Os intervenientes, de uma cultura e inteligência assinaláveis, são apresentados pela sua especialidade académica e defendem as suas ideias e argumentos dentro de uma estrutura de pensamento não enclausurada em ideologias partidárias demasiado evidentes como é costume acontecer em debates do género…
Pelo tanto, as coisas surgem mais interessantes e com perspectivas “menos alinhadas”. Uma lufada de ar mais fresco e menos contaminado.
Quanto ao resto… só vendo!
Os mediadores que se vão revezando de quando em quando são excelentes.


Filipe Taveira

11 dezembro 2006

O Mundo das Ideias

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Para além do que a consciência nos faculta espontaneamente existe toda uma memória mais oculta distribuída pelo equipamento incumbido das nossas funções mentais. Talvez mais apropriado será, em vez de memória, usar o termo de inscrição uma vez que aquela se apresenta como realidade num espaço-tempo consciente e esta como uma amálgama mais ou menos desordenada, pertencente a um tempo cósmico indefinido, à espera de entrar em cena a todo o momento, formando uma espécie de metaconsciência que engloba não só as outras formas conscientes como também as inconscientes do conhecimento geneticamente transmitido e ainda os dados adquiridos pela experiência racional e sensorial que não são percepcionados pelo consciente.
Ou seja, o processo de relacionamento do “eu” consigo próprio e o mundo que o rodeia, bem como o entendimento de todas as coisas que os habitam de forma continuada e evolutivamente elaborada, estaria dependente de um “universo de impressões”, que embora possa trazer à lembrança o Mundo das Ideias de Platão se afasta totalmente da gnosiologia platónica pela ausência de qualquer pendor metafísico ou qualquer elemento estranho ao “eu”, que se pensa, enquanto espécime da humanidade, fazendo parte da sua época e do seu habitat próprios.
A esse universo aqui mencionado pertenceriam, a título de exemplo, o inconsciente colectivo de Carl G. Jung, as partículas quânticas que transportam o registo das vivências dos antepassados, os sonhos e pensamentos que flúem quando “sonhamos acordados”, as informações que nos invadem e trespassam por todos os lados sem que nos apercebamos nem de um décimo e enfim até aquele cheiro que nos recorda certo episódio da infância porque (sem o sabermos até essa altura) só nela existiu…

Cátia Farias

08 dezembro 2006

Signos XIX

06 dezembro 2006

Destino

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"Encontro em Samarcanda"
(Recriação de uma antiga lenda Oriental)

Um dia o Sultão de um Reino na Ásia Central recebeu o seu Grão-Vizir que espavorido lhe contou que um vulto sinistro, embuçado em vestes completamente negras, o tinha espiado na cidade. Pelo ar misterioso e sombrio, declarava ele ao Sultão, seu Senhor, pressagiava com grande convicção e temor que aquela figura que avistara era a personificação da morte. Era a morte que o espreitava, que o buscava, para em breve o atingir e por isso lhe comunicava que ia fugir imediatamente para Samarcanda. E assim se despediu.

O Sultão contrariado com aquele episódio que atingia o seu estimado Grão-Vizir ordenou aos seus soldados que procurassem um tal figurão que pudesse corresponder à sua descrição e, a bem ou a mal, o trouxessem sem demora à sua presença.
Na verdade ao fim de algumas horas os seus fiéis servidores trouxeram-lhe uma figura de porte altivo e terrífico, todo envolto de negro. Mesmo o semblante era uma sombra escura indistinta debaixo do capuz. Não foi difícil o Sultão entender o terror do seu Grão-Vizir, ainda para mais sentindo-se acossado por aquela tão medonha e sugestiva visão, de tal maneira que o levara a escapulir-se à pressa para a distante Samarcanda!...

O Sultão depois de algum tempo a observar a personagem que o Grão-Vizir interpretara como sendo a morte interpelou-a com firmeza:
– Quem és tu que ousas trajar-te assim e amedrontares as pessoas?!
Ao que o estranho respondeu:
– Que a minha identidade não te ocupe… Quanto a meter medo não sei a que te referes.
– Lembro-te que estás no Reino que é o meu. Mas desde já te digo que a razão da tua presença aqui tem a ver exactamente com o facto de andares a aterrorizar as pessoas, como foi o caso do meu Grão-Vizir. O que lhe fizeste? Que sortilégio lhe lançaste?
Do alto da sua possante estatura a voz grave do desconhecido explicou calmamente:
– A única atitude que tomei perante o teu ilustre Grão-Vizir foi apenas a de uma enorme surpresa ao vê-lo na cidade uma vez que eu tenho hoje à noite um encontro com ele em Samarcanda.


Alice T.
(a partir de uma lenda conhecida)

03 dezembro 2006

Um site por semana

O sítio da semana

01 dezembro 2006

Ver em que param as modas


Estamos num tempo em que a convivência com os meios disponíveis para uma interacção rápida que define e caracteriza a nossa forma de estar no mundo obriga a um regime comportamental adequado. Os meios mecânicos e electrónicos à nossa volta ditam os procedimentos mais adequados para supressão dos conflitos e estabelecimento de padrões de conforto aceitáveis.
Por estranho que possa parecer é de moda que falo!
De uma forma ou de outra em todas as épocas as modas, se estudadas como parte da História, revelam, como não podia deixar de ser, toda a envolvente social com as suas contradições inerentes e na sua correspondência directa com as artes e ofícios das respectivas etapas da evolução humana. Embora haja actualmente factores diversos que tornam mais subtil a interligação da moda com o modus vivendi das sociedades, ninguém se imagina nos dias de hoje a entrar e sair dos meios de transporte com roupas do século XVI que sendo demasiado compridas ou folgadas diminuiriam drasticamente a segurança de tais acções.
Parece-me evidente que a moda acaba sempre por ser o reflexo dos tempos acrescentando-lhe significados, atributos e particularizações que não se poderão de todo desprezar.
Afigura-se ser de relativa facilidade identificar um traje. Datá-lo, caracterizar socialmente quem o usou e especular sobre aquilo que o terá apaixonado ou no mínimo aquilo em que acreditou…
Toda a moda aparece com os exageros próprios de tudo que envolve criatividade. Mas até na excentricidade das formas, dos atavios, das cores, poderemos retirar muitas lições. O excesso aparece envolto dos estereótipos e ilusões da cultura donde emana. Depois de subtraída a mera exuberância a relação entre modelo e sua razão de ser poderá fazer-se quase naturalmente.
A tentativa de caracterizar o dealbar do nosso século XXI através dos padrões da moda ajudar-nos-á com certeza a perceber melhor onde estamos e que escala de valores é que adoptamos…

Filipe Taveira

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Nota:
(Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora)

moda
s. f.
uso corrente;
costume;
gosto;
fantasia;
maneira essencialmente mutável e passageira de se comportar e, sobretudo, de se vestir;
cantiga;
ária;
(estatíst.) o valor mais frequentemente representado numa série de observações;

à ~ de:
segundo a maneira de conceber ou de organizar as coisas de;

andar na ~:
vestir o que mais se usa;

passar de ~:
deixar de se usar;
deixar de ser do gosto da maioria;

ver em que param as ~s:
esperar que se modifique qualquer conjuntura actual para se tomar uma atitude definitiva.

(Do lat. modu-, «medida; modo», pelo fr. mode, «moda»)