30 setembro 2006

Um site por semana

28 setembro 2006

Globalização



A palavra globalização tem tantos sentidos que faz lembrar aquele exercício em que se repete em voz alta e até à exaustão um qualquer vocábulo, passando pelas sensações desde o absurdo até ao ridículo, mas insistindo pacientemente extrairemos uma grande lição: a partir de certa altura o termo deixa de ter qualquer sentido! Perde o seu significado e passa a ser um som repetido, sem qualquer valor semiótico.

Já ouvi usar essa palavra – globalização – em conceitos de ideias absolutamente distintas. Para além da constatação da importância da linguagem e do rigor que deve possuir, fica-nos uma certa desolação por não sabermos exactamente do que se fala, quando não há uma integração que ilustre o vocábulo quanto baste permitindo uma interpretação satisfatória.
Numa abordagem linguística mais ou menos rígida quando falamos de globalização devemos significar uma área da economia que se debruça sobre o funcionamento dos mercados mundiais e suas interdependências em termos de produção transporte e comercialização dos produtos. Trata-se portanto da visão da economia a uma escala planetária e que por isso introduz tipos de análise específicos.

A confusão começa quando se aplica, o que não é incorrecto do ponto de vista da língua portuguesa, a palavra em contextos mais latos com ligação aos assuntos políticos, tecnológicos e culturais de uma forma geral. Talvez aqui a palavra mundialização fosse mais disciplinadora. A questão é que mundialização ou globalização também não ajudam muito no que se pretende expressar por corresponderem a um sem número de visões sociopolíticas com as mais diversas e quantas vezes antagónicas ideologias existentes e emergentes.

De tal maneira é a dispersão que quando alguém diz a propósito disto e daquilo: «Pois… É a globalização!», o que é muito frequente nos tempos que correm, mais do que com a maior parte das palavras, temos que saber com quem estamos a falar, as características do pensamento de quem profere a expressão, para sabermos o que a pessoa realmente quer dizer…

Ou o léxico se dinamiza ou vamos ter muitos equívocos e contratempos. Globalização é surgimento de mercados e destruição de mercados, liberalismo e açambarcamento, saúde e epidemias, união e competição, interacção e individualismo, é desnacionalização e nacionalismo, universalidade e sectarismo, independência e anexação e por aí fora. Portanto, evidentemente, de acordo com a natureza, sobressai que para todas as acções existem reacções. E quanto maior é a acção mais violenta será a reacção…
O melhor é doravante e antes de tudo assentarmos sobre os signos!


Alice T.

26 setembro 2006

Organização social



Há algum tempo assisti a uma entrevista na televisão que nunca vou esquecer… Sim, de vez em quando ainda se passam grandes momentos em frente ao pequeno ecrã, pena é que, como neste caso, seja a horas impraticáveis...
Seja como for tive a sorte de assistir a uma longa entrevista com a famosa inglesa que viveu durante anos na selva da Tanzânia, a antropóloga Jane Goodall, onde estudou minuciosamente a forma de viver dos chimpanzés.

Para além da deliciosa forma de expor e do relato de uma série de curiosidades acerca da “organização social” dos símios e das manifestações de afecto entre eles, o que mais me impressionou foi a explicação e exemplificação que a cientista fez sobre a linguagem dos chimpanzés. Sobre as cambiantes sonoras que eles utilizam e a correspondência com os respectivos conceitos. A determinada altura Jane Goodall começou a ilustrar diversas significações, imitando exactamente o som que eles produzem… O que noutro contexto e com outra pessoa poderia ser um espectáculo grotesco registava-se ali como um acto extraordinário sim, mas essencial e empolgante. A naturalidade e entrega total da antropóloga eram comoventes! Só mesmo alguém realmente conhecedor e apaixonado pelo assunto podia oferecer uma lição tão original naqueles moldes.

A sensação que tenho é que esse apontamento marcou indelevelmente a minha memória. Como que a reavivar o meu interesse sobre o assunto da evolução dos seres... É claro que ela só podia chegar ao entendimento a que chegou sobre os grupos de chimpanzés, a maneira como estruturam o seu habitat sociopolítico e comportamental, através do domínio da sua linguagem gutural e gestual! Mais do que ter comprovado, entre muitas outras coisas, a utilização de ferramentas, a capacidade de aprendizagem, a manifestação de sentimentos, Jane Goodall consegue utilizar a linguagem dos chimpanzés como se fosse um deles…

O contributo que a sua pertinácia tem dado para a antropologia é inestimável.
A entrevista despertou todavia o meu desconforto recorrente de que chegados à nossa “tão avançada” época desconhecemos ainda os animais – quando muitos pretendem não ter muitas dúvidas sobre o Homem.

Jane Goodall afirma que os chimpanzés rejubilam de alegria, morrem de desgosto e têm consciência de si próprios…


Cátia Farias

23 setembro 2006

Signos IV

22 setembro 2006

A função pública


Tenho ouvido falar tanto do número de funcionários públicos existentes em Portugal que resolvi reflectir um pouco no assunto. Até porque me parece que aqui também reina grande mistificação porquanto, mesmo sem nos afundarmos na questão, vemos que cada qual conta a história à sua maneira, conforme as suas conveniências, ao mando do seu enquadramento político…
Comecei por planear a elaboração de um diagrama que me pudesse num ápice transportar para a realidade europeia e a comparação entre os estados membros em termos do número de trabalhadores do serviço público. Não tinha chegado ainda ao meio da tarefa quando realizei que em termos percentuais, ou melhor, relativamente ao total da população activa, Portugal fica abaixo do meio da lista! Lista essa com vinte e cinco países! Poder-se-ia dizer: «Mas afinal… como se pode falar de funcionários a mais! De tantos milhares de empregados em excesso!?»

As percentagens mais elevadas, com maior número de funcionários púbicos no mundo laboral, pertencem aos países do Norte da Europa, precisamente aqueles que normalmente se apontam como casos de sucesso económico. Suécia, Dinamarca, Bélgica, Reino Unido, Finlândia, eis alguns no topo da tabela.
É claro que como a minha curiosidade era encomenda do próprio resolvi deixar o caso a marinar. Fui então pensando calmamente no funcionalismo público. O resultado mais desagradável foi que a sensação de mistificação inicial se agravou. Tenho até a ideia que alguma da informação que corre não é de todo inocente ou bem intencionada, aproveitando alguma ignorância dos mais incautos para impingir conceitos distorcidos em prol da difusão de ideologias mais ou menos sectárias.

Vou partilhar então – que o que se trata aqui neste espaço não é mais do que isso – o resultado dos meus pensamentos solitários até agora sobre o assunto:
1. O número de funcionários só por si não diz nada, sendo apenas um número como qualquer outro, e se comparado com a totalidade de trabalhadores activos, continua a não apontar isoladamente para qualquer tipo de dedução concludente. (Veja-se a comparação com o resto da Europa)
2. As confrontações entre países, mesmo se incluídos exaustivamente os sectores idênticos e equivalentes (p.ex. forças armadas, segurança social), são sempre teóricas pois a articulação sociopolítica que o Estado vai engendrando é diferente de caso para caso. Claro que alguns dados comparativos são todavia admissíveis, com algum cuidado no tratamento da informação.
3. A maior ou menor quantidade de serviços públicos é uma consequência da maior ou menor intervenção do Estado na administração global do país desde os serviços sociais até à gestão económica e monetária.
4. Como se depreende a fatia exclusivamente pública é um atributo de uma determinada política e, se quisermos ir até às últimas consequências, de uma ideologia.
5. E é então que se revelam de modo evidente, e talvez por isso mesmo caricato, as opções ideológicas de cada um na defesa ou no ataque à quantidade de trabalhadores dos serviços públicos. Em termos simples, mais Estado ou menos Estado. Menos Estado = maior sector privado. Maior sector público = mais Estado.
6. Aqui chegado, pude concluir que ainda não sei se há funcionários a mais ou a menos. Mais ainda, posso neste momento duvidar que, de uma forma honesta e científica, haja quem saiba.
7. Concluí pois que, mais uma vez, a vontade de dar a compreender com integridade determinada matéria é, na nossa sociedade, o mais das vezes abafada por fortes interesses individuais.

Sublinho que o que está aqui em causa é apenas uma análise quantitativa e não qualitativa, distributiva ou outra. O número é que lançou o tema...

Dos trabalhadores cuja existência e posição laboral se desconhece não falarei, por vergonha.
Vasco Sousa

20 setembro 2006

Discussão infindável

Este é mais um daqueles assuntos que gera as mais acesas polémicas, os ataques e defesas mais elaborados e acalorados. Os criacionistas e evolucionistas embrenham-se em lutas intelectuais desde o século XIX, mais ou menos com a mesma energia e irredutibilidade.
O assunto também não é para menos!

O criacionismo exige, de qualquer forma, uma crença, uma fé. A fé no sobrenatural não parece ser incompatível com uma mente científica que consiga articular as suas convicções metafísicas com a sua actividade. Existem vários exemplos eminentes.
Contudo, quanto a nós, a ciência enquanto saber do Homem, não admite certezas absolutas. O conceito de fé não colhe, intrinsecamente, no que respeita ao conhecimento científico. Aí, precisamente ao contrário, quanto mais perto da transcendência mais se impõe a incerteza. A mente humana, ao que parece, apenas consegue lidar com a probabilidade, com o grau de incerteza…
No resto, continuamos antropocêntricos. Temos que ser especiais e ter os grandes enigmas decifrados. Nem que essa persuasão nos impeça de cogitar mais além!

Deve ser fantástico sentir que se é iluminado por Deus. Saber, sentir que Ela existe. Encontrar em Deus uma resposta definitiva. Mesmo que Ela esteja esquecida de nós!…

Nuno G.

19 setembro 2006

Últimas notícias, Banguecoque

Golpe de estado na Tailândia!
Militares assumem o controlo de Banguecoque.
Declarado o estado de emergência.
Leia mais (em inglês).

18 setembro 2006

"Return"


Pois era impossível não ver o… “Volver”. Até porque a um filme do Almodóver não se deve faltar!
Neste “Return” (titulo oficial em inglês), o trabalho mais recente do original realizador, ficou-me a sensação um pouco desconsolada de que o melhor do filme é a forma assinalável como foi feita a sua distribuição…
Mais não direi.

F. Taveira M.

Um site por semana

16 setembro 2006

Abracemos as causas

Sempre tivemos a tendência de pensar que a “verdade” está do nosso lado. A nossa cidade é a melhor. O nosso clube é que deve ganhar. A nossa forma de ver é que está certa. O nosso partido tem as respostas mais adequadas. A nossa religião é definitivamente a verdadeira.
Os grupos perduram por uma coesão que se forma em torno de interesses idênticos, da comunhão das mesmas necessidades, da identificação atractiva de gostos e simpatias comuns.
A própria harmonia social depende de um ideário que quanto mais partilhado for mais espectável será o sucesso.
O Homem empresta à “tribo” a sua adesão, a sua participação e a “tribo” recebe-o e “educa-o” dentro das suas normas, crenças, rituais e fetiches. O prazer de pertencer ao grupo, ilusão de não estar só, fornece estabilidade e sensação de bem-estar ao ser psicossocial que é o animal humano. O conforto psíquico de pertença ao colectivo faz com que o individual se fortaleça pela estima que fazer parte de uma comprovada realidade lhe faculta. Com o tempo essa realidade deixa de ser posta em causa, pode até ser inútil ou perniciosa, porém o raciocínio trivial perde a capacidade de a julgar…
Se tudo isso é natural, não deveremos todavia sair da razão e sim estar cientes que nos agarramos com afinco ao incontestável efémero numa vertigem de autenticidade precária, tanto mais que sabemos de antemão que todos esses conceitos que abraçamos perecerão infalível e implacavelmente. A “tribo”, o grupo, a causa, o clube, a crença, darão lugar a outros tantos enganos, noutras épocas, noutros contextos sociais. Até nem nós seremos os mesmos.
Sim, abracemos as causas, mas devagar… Pensando talvez que o que queremos mesmo é vê-las evoluir e que, sendo estas, poderiam muito bem ser outras!...


Vasco S.

14 setembro 2006

Referencial


Assim como medimos distâncias tomando como referência o sistema métrico com unidades padrão predefinidas, também avaliamos os comportamentos dos outros com o nosso referencial psíquico, aferindo-os com os nossos padrões culturais. E está certo, assim tem de ser, já que de outra forma não seria possível: é impensável que cada indivíduo não pense senão com o seu equipamento intelectual, senão com base nos paradigmas que estruturam o seu pensamento, enfim, não julgue senão cotejando os valores que adquiriu.
Porém, estando estes princípios perfeitamente de acordo com a natureza humana que conhecemos, o que é imprescindível é que tenhamos sempre presente que os nossos modelos poderão não ser perfeitos ou sequer os mais adaptados a todas as realidades. Não por se ter em conta qualquer tipo de visão moralista, mas sim para encararmos a possibilidade de percebermos as matrizes dos outros, quaisquer que eles sejam, onde quer que habitem. Só pela consciência da nossa limitação poderemos alcançar, não a realização das mesmas operações lógicas, por impossível, mas pelo menos uma compreensão mais ou menos satisfatória do mecanismo de funcionamento dos outros...

Em Xangai, uma das maiores cidades do mundo, talvez a mais cosmopolita da China, os chineses, tanto homens como mulheres, vêm com frequência à rua de pijama…
E já que vieram os chineses à baila, eles dizem que nós, os “diabos brancos” (que é a tradução à letra do chinês de brancos, para eles “kuai lous”), de um modo geral cheiramos mal!...

Cátia Farias

12 setembro 2006

Interacção







"Never let your sense of morals
get in the way of doing

what's right."
Isaac Asimov



Isaac Asimov, o famoso escritor de ficção científica, no meio das suas centenas de contos supostamente sobre o futuro mais ou menos longínquo, escreveu uma história em que colocava os humanos num cenário em que eles comunicavam entre si apenas através de “máquinas de interacção” que permitiam a comunicação oral e mesmo visual do tipo holográgico, ou seja, tridimensional. Conversavam, realizavam reuniões ou conferências, confraternizavam, sempre à distância sem nunca se juntarem realmente, fisicamente. É claro que a história tem a suas peripécias, com o sabor ficcional da superior inteligência de Asimov, mas um drama sobressai:
- Os protagonistas, ao fim de anos de convívio remoto, uma vez que as relações humanas dispensavam a presença real, já não conseguem aproximar-se uns dos outros. O que virtualmente é afectividade e interesse transforma-se numa extrema angústia, até pânico em alguns casos, pela sensação insuportável da presença corporal dos outros. Admitir a possibilidade de se tocarem ainda que de raspão, depois de todo aquele tempo sem contacto próximo, tornou-se uma ideia repugnante.
É evidente que existem “outros pormenores técnicos”, mas Asimov enquadra tudo perfeitamente…
Interessante é o facto dessa novela ter mais de quatro décadas!

Alice T.
N.I.: a capa de livro em cima não corresponde ao romance referido.

10 setembro 2006

"É assim: obviamente que..."


Richard Dawkins, o reputado cientista e divulgador de ciência, defende que existe uma entidade, a que chama “meme”, que à semelhança do gene se propaga na espécie humana.
Não de uma forma biológica mas através de uma transmissão de conhecimentos, o mais variados possível, de cérebro para cérebro, apenas através de uma transferência de informação que é emitida e armazenada na memória.
Segundo esse cientista a propagação do “meme” é veloz e eficaz, constituindo um elemento de evolução social importante. Claro que poderá haver várias implicações…
É mais do que provável que a sua teoria venha a florescer. Veja-se, por exemplo na língua, como certas expressões, certas palavras, se multiplicam como um vírus pela maioria das pessoas que, quase inconscientemente, desatam a repeti-las até à saciedade!...


Alice T

09 setembro 2006

Signos III

08 setembro 2006

Spectrum

Dei uma vista de olhos pelos “posts” por aí abaixo. Alguns nem me atrevi a passar dos primeiros parágrafos… Mas houve um que me chamou particular atenção com o título de “A realidade” da Cátia Farias. Veio-me à memória o espectro das radiações de luz (visível e invisível).

O Homem demorou milhares e milhares de anos para se aperceber que nem toda a luz era susceptível de ser interpretada pelo olho humano. Só muito recentemente na História da humanidade se descobriram certo tipo de radiações, descobertas essas que mudaram para sempre o rumo dos acontecimentos…

Isto só para dizer que, quando a Cátia me transportou para as cores e para a noção de realidade, disse de mim para mim: «É bem certo que é muitíssimo mais aquilo que não podemos realizar do que, à partida, os nossos sentidos nos conseguem devolver!»
Pensei também, talvez também por influência dos “posts”, que se devia erguer uma bela estátua à Ignorância. Vou propor isso ao “Positrão”…
Nuno G. Ferreira

07 setembro 2006

Artes, letras e outras técnicas

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Ficarão pois alguns testemunhos senão em papel pelo menos num qualquer registo digital ou outro que ainda não concebemos. Todavia nos sobrevirão. Sempre.
Indícios do que fomos ou do que sonhamos ser, essas centelhas voarão no tempo para que os vindouros se encontrem nele, numa sedutora continuidade lógica. Cintilará pois o que subsistir de toda essa energia em que por momentos, talvez às vezes demasiado longos, julgamos acreditar.
Nessa amálgama, porventura um dia alguém adivinhará os nossos desejos mais profundos e deles fará alimento para outras quimeras, abreviando e ampliando incomen- suravelmente as suas cogitações e devaneios e nada será como foi.
Nosso legado, não nos definindo nunca, não deixará de constituir a nossa humanidade. Sem distinção, mas com a alegria de quem se achou ignorante e procurou saber.


Alice T.

06 setembro 2006

O Irão


Agora a esta distância, bem vistas as coisas, o azar do Iraque foi mesmo não ter as tais armas de destruição maciça, a esta hora porventura ainda enterradas em lugar incerto depois de “oficialmente” fotografadas para testemunho de muitos yes-men posteriormente ridicularizados e para divertimento pouco recomendável das eminências pardas…
A azáfama do Irão para garantir os seus trunfos não é senão consequência do seu desejo de progredir economicamente e conseguir um nível de desenvolvimento de que se possa orgulhar, o que, de uma forma ou de outra, é o desejo de qualquer país.
Não é preciso ser muçulmano nem persa para dar uma olhada pelo Médio Oriente e ver quem é que se está a safar e quem é que se está a enterrar todos os dias. O acesso a todos os mercados, o desempenho económico cada vez melhor assim como o bom relacionamento nos negócios internacionais da Índia e nos últimos anos a subida dos níveis das taxas de crescimento no Paquistão (atingindo já valores na ordem dos 6% do PIB) revelam que não há nada como ter “argumentos de peso”! Como sabemos, tanto o Paquistão coma a Índia tem “armas de dissuasão maciça” ou seja, para abreviar, ambos possuem o engenho nuclear, o terror da bomba… Ninguém acredita que aquelas almas ambicionem desatar a matar toda a gente e aniquilar regiões inteiras. Contudo pelo que vemos a intimidação funciona, pois é disso que se trata. Aliás, para as grandes desavenças, cobiças e outros quejandos, as alternativas não poderiam ser muitas, sendo provavel que acabassem a reboque de uma mania qualquer, fosse ela de grandezas ou de maldades…
Portanto, à parte todas as simpatias ou antipatias, só critica o Irão quem não é país, ou quem é país mas não se importa de não ser independente ou gosta de prestar vassalagem. A questão é que talvez o Irão já não tenha o tempo de que precisa!


Vasco Sousa

05 setembro 2006

Jorge Luis Borges (I)

A cada instante de meu sono ou de minha vigília
corresponde outro da cega moeda.
Às vezes senti remorso
e outras, inveja
de ti que estás, como nós, no tempo e em seu labirinto
e que não o sabes.
.
Jorge Luis Borges (Agosto 24, 1899 - Junho 14, 1986)

04 setembro 2006

Signos II

03 setembro 2006

Uma ética essencial

A ética, talvez mais subtilmente que as outras ciências, tem a ver sobretudo com o tempo. Medido aqui em gerações sobre gerações, comportamentos sobrepostos em comportamentos, juízos evolucionando para outros juízos…
As noções normativas de bem e de mal correspondem mais a indicadores de uma determinada fase da história do que ao enunciado de conceitos universais da humanidade. Mesmo em cada época não há coincidência de valores, podendo-se distinguir facilmente grupos, sociedades, países, regiões, continentes e por aí fora, conforme o alcance da classificação que se desejar efectuar.
Seria trabalho árduo mas não infrutífero encontrar um padrão comum a todos os povos, uma vez que teoricamente, por simpatia com as teorias evolucionistas, é muito provável que exista. Ainda que fossem muito reduzidas as sobreposições existiria uma ética essencial característica de um determinado momento.
Essa procura, com a sofisticação científica actual, não é de todo irrealista. As amostras experimentais seriam dimensionadas e seleccionadas de acordo com as possibilidades…
Nessa imensa base de dados muito se poderia deduzir. Poder-se-ia determinar com certeza a quantas velocidades psicológicas o planeta viaja e, quem sabe, a razão subliminar de certas desinteligências graves, já que à superfície o bom e o mau à luz das grandes crenças e moralidades vigentes são muito semelhantes. Talvez se pudesse encontrar uma via científica qualquer, uma vez que todas as outras se revelaram inábeis!
Ou será que ainda há quem acredite que o Homem continua até agora a lutar apenas pela posse do Sexo oposto e do território?

Cátia F.

02 setembro 2006

Êxodo


Com que princípios vemos a questão do êxodo dos africanos para a Europa?
Como enquadramos historicamente a África miserável e a Europa da abundância?

Qual é a nossa posição ideológica sobre o assunto?
São os emigrantes africanos actuais uma ameaça ou é esta geração que tardia e desesperadamente nos pede contas?

Paremos um pouco para pensar!
Estaremos também aqui a alentar “o ovo da serpente” que acabará um dia por explodir “inexplicavelmente” no meio de nós?!

Vasco Sousa

01 setembro 2006

Um sinal dos tempos


Buracos negros são zonas do espaço onde o campo gravitacional é de tal ordem que atrai de forma inevitável capturando imediatamente qualquer coisa que dele se aproxime e de onde não é possível sair matéria nem qualquer tipo de radiação.

Já não bastava ter a infelicidade de ver o António Pedro Vasconcelos nos muito animados e intragáveis debates televisivos sobre a epistemologia do futebol, esta semana inadvertidamente encontrei o Sérgio Godinho muito empenhado nas suas posições futebolísticas numa dessas sessões num qualquer canal de teledifusão.
Não há nada de particularmente reprovável que um cinéfilo/cineasta ou um poeta/músico debatam o futebol…
Mas o que é bem um sinal dos tempos é que eles apareçam agora alcandorados nessa função de filósofos do futebol, fazendo-nos até esquecer que porventura teriam muito mais e melhor para dar!
Dizer que as exigências do público estão na base da existência e proliferação excessiva de certas temáticas é o mesmo que dizer que a televisão é apenas mais um produto trivial de venda indiscriminada.
É pois bem um sinal dos tempos esta noção concisa que certas presunções e veleidades soam absolutamente ridículas no pretenso e irrisório audiovisual que é o buraco negro da televisão portuguesa!


Filipe Taveira M.